20 fevereiro 2023

Triângulo da Tristeza, o filme, retrata a realidade humana em todo canto. Inclusive a de hoje: enquanto o litoral norte de São Paulo desmorona com as chuvas neste fim de semana, os ricos salvam a pele de helicóptero.

       Fui assistir o Triangulo da Tristeza, do premiado diretor sueco Ruben Ostlund. No cinema, ainda bem. É o tipo de filme para ver na telona, sem direito a desligar. Por que dá vontade sim. Claro que você pode sair do cinema, mas...a película também cativa ,  você só precisa ter preparo para aguentar e conseguir ir até o final. Imagens que chegam a marear. 

    É um enredo sobre dinheiro e poder. Sem dúvida. Mas... antes da primeira cena em que se discute dinheiro abertamente: um casal de namorados: Yaya e Frank,   empurra a responsabilidade da conta de um restaurante que parece caro,  um para o outro- há uma outra cena. 

O filme começa com a seleção de modelos para um trabalho.  Atores enfileirados, dorsos expostos e sujeitos as gracinhas dos contratantes como meros objetos, disputam o lugar ao sol. Alguém da banca de "juizes" diz a um deles,  o Frank, que precisa relaxar o "triângulo da tristeza". E assim ficamos sabendo que, esse triângulo que dá titulo ao filme, é um espaço entre os dois olhos e que costumamos franzir de preocupação. Em seguida ele deve, junto com outros concorrentes, fazer "cara de marca barata"- sorridente e alegre e "cara de marca cara"- malvado, cheio de empáfia. 

                                           Triangulo da Tristeza -Imagem de divulgação 
                                                       encontrada no Google


   Assim não é só dinheiro e poder que estão em jogo, mas semblantes. Sim, não se trata só  de ter ou não ter, é fazer cara de. É o que faz todo o tempo Yaya- influencer- que se fotografa diante de cenários variados, nada necessariamente, que ver com a realidade dela. Como a cena do macarrão- repare.  É a pose o que está valendo. 

  Triângulo da Tristeza é  também um filme que fala de lei.  E da falta de lei. Parte da trama se passa em um cruzeiro de luxo, em alto mar. Cujo capitão, a maior autoridade dentro de um navio, se recusa a exerce-la, preferindo beber até cair. É um navio sem lei. E a força do dinheiro entra ali buscando fazer uma suplência mal-dita: "eu sou o novo dono dessa embarcação" diz o milionário russo, que ficou rico " vendendo merda", repete ele com desdém a quem ouve. 

  O mais interessante é que não há  comentário sobre cada situação que se apresenta. São as imagens na cara do espectador,  As imagens de cada cena, sem muitas palavras, vão dando a pista, mas cada um pode colocar o texto que preferir. É cinema. Como nos sonhos, imagens atras de imagens.

  A narrativa é separada por diferentes blocos. O próximo, terá lei: a do mais apto. E nem sempre o mais apto é aquilo que esperamos ver- o mais rico e poderoso, o mais bonito, ou o mais forte. Mas aquele capaz de rapidamente se adaptar e garantir a sobrevivência, diante das circunstancias. 

 Do começo ao fim o título de outro filme, rodopiava a minha cabeça " A classe operária vai ao paraiso", de Elio Petri, 1971. Como se também coubesse nesse filme. Deve ter uma porção de referencias a outros filmes, é claro.  Nada de realmente novo em termos da farsesca vida ao redor do planeta. Ricos versos pobres. Ressalva para momentos em que são os pobres x ricos. Assista que vale a pipoca e seu tempo no cinema. 

 Fiquemos com as imagens das cidades do litoral norte de São Paulo. Que tragédia. 36 mortos ate agora. Muitos desaparecidos e muitos mil desalojados. A população se mantém ilhada.  Alguns poucos que podem pagar, já se distanciaram, de helicóptero.  Capitalismo é feito de desigualdade mesmo.  Podiam estar providenciando medicamentos e comida para tantos desabrigados. Os helicopteros serviriam muito bem. Os "bacanas" são bacanas ( interrogação)

Vamos colaborar. Ja ja coloco aqui algum endereço para doação. 

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