05 dezembro 2022

Encontros e desencontros. Assisti novamente. E ali vejo: amamos e somos amáveis.

       Quinta feira falo com minha irmã. Ela está na Coreia. Indo no dia seguinte para o Japão. . Viajo por segundos. Que vida bonita, interessante e rica em diversidade. Me alegro. Por que ela foi longe. E continua indo. Por que acompanhei essa trajetória até um determinado ponto. E de repente, me perdi no tempo. Não notei que 15 anos tinham se passado. E que aquela moça ainda meio zonza em Paris, embora sabendo bem o que queria, mas não ainda exatamente como alcançar, encontrou seu caminho. Não era só o emprego e depois outro e cada vez melhor. Era escolher alguém com afinidades, construir uma família. Ir atras daquilo que para ela é a felicidade, ou sua aposta, dia a dia. 

      Me perco de novo no itinerário: já chegou em casa? Não. Vou amanhã. Estou em Toquio. No metro. Ali tiro uma dúvida quanto a um Lego ou um Playmobil.... e lembro do filme com Bill Murray e Scarlet Johanssen. Faz vinte anos agora, o encontro desses dois artistas maravilhosos. Ela muito jovem e sempre talentosa desde "O Domador de Cavalos", era esse o nome? Ele que eu gosto tanto desde "O Dia da Marmota", aquele filme em que o protagonista acorda sempre no mesmo dia, e o repete, repete. Em uma elaboração permanente.  Assistir novamente. Você já experimentou ver de novo, um filme que ainda é bem atual, atemporal, vinte anos depois?

     O filme está ali com suas beleza, suas sutilezas, mas e nós em vinte anos? Mudamos? Regredimos? Avançamos? Podemos ver com outros olhos. Scarlet agora é bem mais jovem, Bill nem tão velho assim. Charmoso, bonito? É bonito sim. Me lembrou experiências minhas. Eu e meu amigo Jacques no Caminho de Santiago. Será que nos apaixonamos? Talvez. Nos conhecemos, nos admiramos. Descobrimos o quanto somos e pudemos ser amáveis. No sentido diverso da palavra, que se converge. Somos amados, por que somos amáveis. Quer dizer, podemos ser amados por aqueles que reconhecem em nós o que há de bom. 

    No filme, Charlotte, a personagem, é casada com um fotógrafo pouco apaixonado, parece. Ainda muito deslumbrado pela carreira decolando. Curioso com uma amiga cheia de lorota que também está em Toquio. Pouco valorizando sua mulher sensível, e ainda sem noção do que fazer na vida. Bob o personagem de Bill, é um ator famoso, mas já meio aposentado. Está em Toquio para fazer propaganda de uma marca de whisky. Acho que em 2003 ainda não vigorava a lei de que whisky só o escocês. Cachaça no Brasil, Rum em Cuba, Champagne na região da França.

   Eles se encontram ali, na dúvida, sem muito drama, quanto as suas escolhas. A convivência durante uns dias em que o fotografo parte para outros trabalhos e deixa a linda Scarlet naquele hotel, naquela cidade, tão diferente. Disponíivel estava Bob/ Bill. Também longe da familia, mulher e filhos pequenos nos Estados Unidos. Taí, duas pessoas, que vão ganhando intimidade, compartilhando aqueles momentos ali. Simples assim. No final vão sentir saudades. Uma pequena paixão, que não chegou ao contato físico. Um reconhecimento. E é isso. 'A vida é a arte do encontro", já dizia Vinicius de Moraes.  Bom para quem vai se refinando nessa arte. Gente é o que temos de melhor. Como a gente. 

   Segunda feira: a essa hora, minha irmã está acordando com seu marido, em Paris. As crianças já sentando na mesa para o café da manhã.  Um dia que começa. Daqui a pouco para nós aqui também. Vivamos. Boa semana. 

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