05 maio 2016

As vezes a gente escreve para ler no futuro. Esse post é um deles. E estou feliz de ler outra vez. Assim passo para vocês também.

Fragmentos de Uma Analise.com de Rubens Molina. Agora li o livro todo, tenho mais o que falar: Leia você também. Vem.

  Nada como a madrugada para  ler um livro inteiro. Quando é bom, não há esforço. É diversão garantida: dei gargalhadas com o bom humor do Mestre. Ali vai de tudo um muito: muita menção ao futuro, as novas tecnologias, aos homens construídos com cérebros mil vezes mais capazes do que os nossos. Também prefiro o futuro, desde sempre. Me fez lembrar minhas leituras de fim da infância: Adous Huxley e seus admiráveis mundos novos. Onde as crianças já não nasceriam mais de um ventre biológico, mas todos, bebês de laboratório. Valorizados de acordo com sua capacidade pensante: uma hierarquia intelectual, como castas. Parece a mesma coisa. E é quase. Os seres que Molina fala já não são feitos de carne e osso, mas tem consciência, humor e espiritualidade.. Admiro muitíssimo essa capacidade visionária de pessoas geniais. Huxley era meu Julio Verne. Que mais tarde virou Molina.
                                                                Rubens Jagger Molina:
                                                               Admiração e reconhecimento.


Foram aqueles 12, 13 anos de análise que já me sugeriram botar no currículo, como uma preciosidade. O Lattes não aceita essa parte tão importante do histórico de uma pessoa. Mas um dia isso há de mudar. De preferencia, logo. Quem não passou por uma análise na própria pele, vai fazer o que diante do sofrimento, da paixão de ser humano? Tudo parece meio engessado no mundo acadêmico. O reverso do que gira em torno de Rubens Molina, seus alunos, seus analisandos, seus gratos admiradadores, no mais alto respeito por sua constância no lugar que o ocupa há tantas décadas. Um Mestre e uma  escola de vida, sem esse nome. Sem rótulo algum, mas imensamente consistente.

 Então voltando ao livro que pergunta: Psicanálise é Ciência ou Arte? E responde, comparando a Ciência ao coelho de Alice, sempre atrasado em relação ao inconsciente. O sonho vem antes da realização. E portanto, há de se tornar uma "coruja antenadíssima" para exercer a arte de acolher os sonhos de quem chega pedindo socorro.(" pedindo penico", ele diz em outro momento).  Harry Potter e o espelho  Ojesed que reflete seus pais. Desejo de quem não os teve, diz Molina. Se os tivesse, o Ojesed refletiria o que os filhos gostariam de fazer com eles. E outros tesouros, como  uma carta de Freud se abstendo de apoiar o Sionismo, contra os ataques árabes a Israel,  traduzida em amplo sentido pelo autor de FragmentosdeUmaAnálise.com. A questão viadosXgays: "já não  fazem viados como antigamente". E viva Mme Satã. As tristezas de Edith Piaf, a arrogância  genética e neurocientífica. A precisão do morcego. Nada passa batido.

 Sua admiração por seu analista MDMagno, e a Nova Psicanálise. E sua aposta e fé nas pessoas que nasceram depois dos anos 90, essas que já chegaram com novíssimos chips e exigência de velocidade máxima. Para elas, uma análise só poderia mesmo ser on-line. Quem perderia tempo no transito se com um click se alcança a escuta apurada tão importante? São esses moços e meninos que provavelmente conviverão com os tais seres fabricados que, segundo Molina, também chamaremos de humanos.
                                                          Mick Molina Jagger: os dois com
                                                          70 anos. E um percurso muito lindo.
                                                           Sim sou fã. Da energia, da vivacidade,
                                                           do talento de cada um.


O repertório é vasto. E é só um "menu degustação" da obra de uma vida inteira. Não é para o bico de quem foi feito a "quatro tamancadas". É preciso tirar o cascão para começar a apreciar pensamento tão refinado. Que pode ser polêmico na visão de alguns. Mas irônico não é. É bem humorado mesmo. Quem diria: me lembro de um analista tão carrancudo,  com cara de Mick Jagger e coraçãozão canceriano. Mas esse é o meu. O da Zoia  Schvartz deve ser o dela, aliás ninguém faria prefácio mais bonito, com olhar tão preciso para este livro e autor. O da Maria Luiza Valente também, um analista único e pessoal.  E minha filha pré-adolescente,  tem ainda outra opinião, através do seu divã on-line. Nunca viu o "Molina" ao vivo. Nem reparou nisso. Ela conhece a voz e um rosto na penumbra de um consultório logo ali, naquele ambiente tao íntimo: o Skype.

 Agora, que sou eu a  mãe da moça, as vezes  peço: pelamordedeus, mais devagar. Esse ritmo geração 2000 me causa estranheza quando é a minha pequena que está na  reta. Em um processo que "nada garante", mas alivia o peso do trajeto que conduz a "indiferenciação"- que afasta das identificações fáceis com "crenças e ideologias" .  Que nos tira do aprisionamento.

E depois de passear pelos avanços do mundo que ainda virá, mas ele já está la, Molina chama a atenção para o grande fantasma: a exclusão. E pergunta: será que para o Brasil ainda há tempo de correr atrás do prejuízo? Quem sabe? Que cada um corra atrás do próprio tempo.
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Se não entender de cara o que está sendo dito, faça análise. Não é por falta de grana que essa 

possibilidade se fechará para você. Como diz o Mestre, na sua generosidade, "ninguém resiste a uma boa "cantada."
 
 Finalmente quero dizer que, além de babar por um livro bom, me derreto mais e melhor,  quando sou citada e com tanto carinho. Pode não ser uma confraria, mas fico feliz em fazer parte. E deixo aqui um  apontamento da novíssima Psicanalise : " se a cura quer dizer alguma coisa é isso: Cuide-se".
É você e só você quem pode querer a sua construção ou reconstrução, o seu melhor estar-indiferenciado- na civilização. A sua capacidade de dizer não quando achar que deve. Já é boa essa conversa. No mais, divirta-se. Com um livro que é pura subversão, na veia. E de preferencia, com a vida.
                                              FragmentosdeumaAnalise.com
                                               Agarre as  oportunidades.


Pauline Herbach (27 de julho de 2013)


Hoje, 19 de setembro de 2013 morreu Rubens Molina, perda irreparável para um Brasil que precisa tanto de dignidade. Ele foi psicanalista de algumas das boas cabeças pensantes desse país. A gente não nasce pensando livremente. É preciso aprender a olhar e ver. E a pensar, sem tanta influência daquilo que se diz por aí. Quem é você? Aí é que está. 
Pois que a genialidade e o coração generoso de Rubens Molina tenha aproveitado dessa estada, na civilização, bem dizendo o melhor possível do mal-estar que é a vida, a maior parte do tempo. A ele,  respeito e carinho. E infinito agradecimento.

2 comentários:

  1. Camille, lembeei vc hj, vim aqui e re encontro como se tivesse te visto estes dias. O mesmo afeto pelo Molina, a filha, a psicanálise... Bom te rever.
    Bjs

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  2. Essa tb é a graça de termos nossos blogs.Podemos nos visitar em fases diferentes das nossas vidas. Tenho feito um apelo aos blogueiros para que voltem para os seus blogs. Gosto muito mais do que escrevi ha 10 anos do que agora, que deu aquele bode geral, e a comunidade praticamnte se extinguiu. Bom "rever"você. Que sabe bem que certos afetos são bem mais do que pura afetação. É amor verdadeiro. Bjosss querida. E volte para seu blog. Cade o endereço?

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