Decido não assistir as notícias que vem logo depois. E guardo esse gostinho do Master Chef com crianças tão incrivelmente habilidosas e obstinadas, para escrever aqui. Fico encantada a cada programa. Por todos os ingredientes que são mostrados: elas tem um vasto repertório gastronômico. Uma capacidade técnica invejável. E ainda estão em uma idade em que são capazes de demonstrar sentimentos lindamente: medo, inveja, tolerância ao fracasso ou ao sucesso e uma imensa vontade de vencer. Além é claro, do prazer de cozinhar. Que só isso, ja deixa em mim um sentimento muito gostoso, de que grandes escolhas na vida podem ser feitas cedo. Com exemplo ou sem exemplo em casa ( mas provável que, com exemplo), elas vão em frente. Maravilhosas, talentosas. Sensacionais.
Hoje eu estava torcendo para a Ivana, Ela é a mais jovem do grupo, tem 9 anos, e não se deixa abater pelas aparências: é pequena em tamanho e em idade, mas grande em coragem e auto-confiança. Chora, reza, as vezes parece ter uma crise de asma no meio de uma receita. Mas sabe que pode, e se joga como as crianças podem se jogar, com tudo.
Impressionante ver a Ivana , de 9 anos, trabalhando.
Sua torre de profiteroles desde o início parecia ser a mais bem concebida:creme de chantili para o recheio, e chocolate amargo por cima. Caramelo para grudar. E ela foi super inteligente essa menina, avaliou bem, e chegou a conclusão de que nos buraquinhos onde faltavam as tais carolinas poderia cobrir de chocolate. Essa criança vai muito longe. É centrada, capaz e não teme a opinião dos outros como a maioria faz. Quando ela chora, parece chorar para si, numa forma de desabafo para continuar na disputa e não para mostrar para alguém que é a menorzinha e pode ganhar no chororô. Eita menina forte. Ela ganha mesmo é na competência.
Agora ficaram quatro semifinalistas. São quatro cozinheiros muito bons. Crianças educadas, com alto QI emocional. Muita experiência ( que lindooooo!!!). E desejo de fazer o melhor. De superar a cada dia suas capacidades.
Adoro ver o chefes: Paola, que fofa, ela chora junto com os pimpolhos. Fogaça, parece um menino grande e ao mesmo tempo um ídolo ao olhar cada um deles. Uma pessoa que precisou ir fundo no sofrimento, tem um filha que se alimenta por sonda. Que ironia para quem exerce uma profissão tão nutridora. Mas é claro que não se nutre alguém só de alimento. E certamente, o super Fogaça, que a meninada adora, alimenta sua filha com muito amor. E tem , encore, o Jacquin. Com sua fala cheia de sotaque e seu coração lotado de empatia, procura passar profissionalismo. Os três juntos parecem uma receita perfeita de palmier:muita manteiga, açúcar e trabalho para valer. Gostosura que parece fácil, mas tem uma porção de manhas que todo cozinheiro tem que passar. Depois de muitas voltas, aparece o formato de do biscoitinho: um coração . Ah, são orelhas? Quem bom, também sabem escutar.
Ouvi alguém falando da "competição capitalista" que o programa é e faz as crianças passarem. Ora, vá morar na Sibéria então. Ou sei lá onde o capitalismo ainda não aportou as suas garras. Mas vale ter precocemente um imenso talento, vocação e desejo, do que chafurdar nos ditames da internet com sua quantidade alucinante de informação, mas também uma cultura alienante e massificadora. Uma fábrica de tolos para quem já tem cabeça frouxa.
Lorenzo parece o mais preparado para ganhar. Quando fez
dupla com a Ivana, isso ficou ainda mais claro. Não se abate
consegue extrair o melhor de seus pares. Isso é ser um chef.
Não só cozinhar, mas guiar, dirigir, administrar.
Ah como eu queria ter sido uma criança dessas. Capaz de conhecer e respeitar o meu desejo desde cedo. Sustentá-lo acima de tudo. E dou parabéns a esses meninos. E também as suas famílias, por que certamente os ajudam a serem quem são. Obviamente as crianças que restaram são filhas de uma elite. Pelo menos assim me parece. Terão grandes chances na vida proporcionadas por seus pais. Mas também e por conta própria, já podem dizer que sabem quem são. Um reconhecimento de si, da maior importância.
Vamos que vamos pessoal, da turma dos grandes e dos pequenos. Em todos os sentidos. Sejamos mais. Façamos mais, Vivamos mais. Saboreando mais cada minuto, oportunidade, sensação gostosa, cada momento doce, salgado, azedo ou seja la como for. Faça a sua receita. E aceite . O resultado final é sempre a vida. Um prato que pode ser quente ou frio, mas jamais comido só pelas beiradas.
Imagens encontradas no Google: profiteroles do Pinterest. Imagem de Lorenzo, do site do programa Master Chef Junior.
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