Muita coisa para se dizer daquilo que se viu na tela: Adrian Brody, o mesmo que emprestou a pele para viver O Pianista, dessa vez ilustra no papel de um" professor substituto", aquele que entra para apagar incêndio na hora em que um professor da rede pública americana- joga a toalha. E faz essa tarefa por ideal: "para que os alunos não troquem de professor a cada semana. Para que estejam preparados para quando chegar o definitivo, o que vai ficar com a turma".
Essa é a segunda vez que assisto esse filme, que já foi traduzido com dois títulos: "A Indiferença" e " O Substituto". Os dois fazem sentido no contexto, mesmo que não necessáriamente descrevam o professor de Adrian. Substituir por um tempo, poderia ser sinal de indiferença: tanto faz estar aqui como ali. Mas nesse caso, o extrema sensibilidade do ator, no lugar de professor, aponta com muita firmeza e enorme tristeza, o adoecimento da instituição, quando pais, alunos e mestres vivem uma des-reunião, totalmente dissociados da realidade premente de comunidade assídua, para resolver os problemas que são de todos:
- como educar um adolescente, num amplo sentido? Só com a reunião de todos, se chega a um caminho. E reunião, que poderia se tornar uma união, em geral, não existe.
Então vemos a convocação de pais e nenhum comparecimento, professores apáticos diante de sua classe, sua escola e também de suas necessidades pessoais. E uma situação tão caótica, como se um armário onde tudo tivesse sido ali socado e empurrado para dar a ideia de que a sala está bem arrumada, de repente escancarasse por lotação de coisas não resolvidas, e toda aquela enorme bagunça desmoronasse de uma vez, sem ninguém com vontade ou forças para catar o que foi espalhado pelo chão.
Um Estado pedindo ordem, e ao mesmo tempo, sem oferecer nenhuma diretriz. Professores vivendo picuinhas, politicas internas e externas, se chocando. E pessoas, como em todo lugar disfuncional, falando e fazendo mal umas as outras, ao invés de assumir cada um sua parcela de responsabilidade e todos juntos se colocarem a reerguer os escombros.
Quantas realidades já vimos assim? Quantos professores impotentes diante da mais completa falta de horizonte, de autoestima, de ideais de seus alunos? É a cara do Brasil , é a cara do ensino público em qualquer sociedade em que o respeito à escola, a Educação, a formação de cidadãos não venha em primeiríssmo lugar. E o que vem em primeiríssimo lugar num mundo capitalista, quando é corrupto e desalentador? O futuro do adolescente é que não será.
Somente o presente, o imediatismo é o que conta. E aí como ficamos?
É preciso um grande movimento social de reunião, de convocação, de reorganização, diante de ideais educacionais, sem esperar que o governo proporcione. Mas que seja então convocado- o governo- a subsidiar aquilo que for definido por uma comunidade, essa grande comunidade de educadores que tem o Brasil. Da qual fazem parte professores, psicólogos, pedagogos, artistas, .pais, (e todos os cidadãos que aparentemente "não tem nada com" isso". Se "isso" é o nosso futuro. Estamos todos implicados.)
Para que o desejo e o amor de quem quer colocar a mão na massa, não fique apartado e só, impedido de executar. Como o personagem de Adrian, procurando fazer a sua parte, por ser um"sangue novo", um substituto, ainda não contaminado pelo ambiente desesperado. Pronto para sair fora e enfrentar uma nova escola. Mas e os que ficam?Que acordem, e mais uma vez e outra e mais outra. Convocando sem parar a população desinteressada, a participar.
Em NY , há anos atrás, participei de um projeto bastante interessante nas escolas públicas próximas ao meu emprego, a clínica. A meta ali, era dialogar com mães e pais, sobre drogas e a transmissão do vírus da AIDS entre os alunos adolescentes. A convocação era para pais, mães e filhos. Só compareciam as mães. Sempre. E poucas. Mas com as que estavam ali a cada nova tentativa, conseguimos, duas brasileiras, eu e uma amiga que tb trabalhava na cidade, mostrar que discutir, dialogar, conversar, era muito importante. Ouvir mães com filhos infectados, promover o debate. Eramos de fora, como o professor substituto. Sentíamos menos dor, do que quem estava ali todos os dias. Ao mesmo tempo, precisávamos de menos anestesia, e assim podíamos ver e comentar sobre aquela realidade. Apontar fragilidades obvias e tão difíceis de serem enxergadas, que dirá sanadas.
É isso, um pensamento leva a outro. E a ideia é : procure com todas as forças, não adoecer na a sua instituição adoecida. A cada gesto, a cada passo, seja você o remédio, o alento, o agente de mudança. Para isso , cuide-se.
Como? Dando aula em três escolas diferentes para sobreviver? Você poderá me perguntar. Não sei a resposta, mas quero compartilhar. Conte comigo nem que seja para dizer: parabéns mestre, estou acompanhando a sua luta, estou enxergando seu desespero, estou aqui e sou gente feito você, disposta a ouvi-lo. É só para o momento. Mas vou descobrir como fazer mais.
(imagens encontradas em busca no Google)
Há muitos anos atrás, trabalhei por seis anos, como substituta(eventual),termo usado nas escolas estaduais. E sei muito bem o que é, essa situação de impotência, que naquela época, era bem pior que hoje; "em certas partes". Tal fato podemos observar, em algumas estatísticas; que revelam as doenças sintomáticas, que se assolam nesta profissão...
ResponderExcluir...mas, mesmo assim, ainda tenho esperanças que a educação passará, por processo de mudanças...mesmo porquê, como está impossível de piorar...existem professores excelentes, nas escolas, assim como também, tem alunos querendo crescer e aprender...
Como disse Rubem Alves(que eu amo)"Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
E então, o que nossos políticos devem contribuir, para que as gaiolas, sejam extintas, e que todos aprendam a arte de voar???
Esse comentario é um verdadeiro presente. Nada melhor do que saber a opinião de quem é professora, está ali no oficio da profissão. Vivendo aquela realidade. Escola boa para mim, seria um mix de Paulo Freire com Kris Namurti, mas isso na minha utopia particular. Sei que a coisa está feia, por tudo que leio e vejo.
ExcluirLinda essa imagem do Rubem Alves "escolas que são gaiolas e escolas que sao asas. Já estudei nos dois tipos. E adoraria que as escolas do Brasil publicas e privadas fossem asas. Esse seu comentario merece um post. Fui ate seu blog , ver seu nome . Não consegui entrar, vi apenas aquela pagina de apresentaçao e não dava para acessar. De toda forma muito grata por seu depoimento. Para isso vale a pena ter um blog. Bjos.
Cam
Professor é pouco valorizado, não tem o salário que merece. Esse filme deve ser bacana.
ResponderExcluirBig Beijos
Realmente Lulu, e nesse filme não é diferente. É tão grave a coisa que serve de reflexão para a Educação que temos aqui. Bjos e assista!!!
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