Pude relembrar desse grande sucesso, cheio de ritmos precisos de encenação, ilustrando o imenso talento da dupla, capaz de prestar atenção acurada na audiência, enquanto interpretava inúmeros papéis e mais uma atração: trocavam de roupa em segundos. Entravam na coxia e saiam, com roupa e cabelo, completamente diferentes.
Agora em "Seu Neyla", Latorraca, de casa, por um telão, fala de conquistas, sucessos, em 60 anos de carreira e 78 de vida. Assujeitado a sua condição humana, por trás daquela estrela brilhante que conhecemos. A começar do berço: seus pais, com dinheiro curto e artistas do antigo Cassino da Urca. E adolescente, depois da tentativa familiar em mudar seu destino é incentivado por sua mãe, a seguir sua irredutível vocação de ator.
O espetáculo repassa o encontro de Ney com grandes atrizes do Teatro brasileiro como Nathalia Timberg e Cacilda Becker. Sempre com muito humor. E uma dose de ironia. Sem sarcasmo, do jeito que entendo que é sarcasmo: aquele humor que desagrada e deixa a todos constrangidos. Ney tem uma ironia fina, elegante.
Do conde Wlad da novela Vamp, ao Barbosa e alguns papéis de "galã"- que lindo o Ney. A plateia vibra em reconhecimento ao talento desse grande artista.
Fiquei especialmente emocionada ao ouvi-lo cantar uma canção de Chico Buarque, enquanto o telão mostrava imagens dos tempos da ditadura militar. Boa parte dos brasileiros não era nascida e parte já esqueceu. O que é um grande perigo. A frase: "quem não conhece a própria história tende a repeti-la", de outro lugar e mesmo contexto, reverbera em meus ouvidos, enquanto a história do momento presente e do passado recente degringola. Pensei que Ney fosse meio fora desse discurso, o politico. Mas como poderia ser? Viver é um ato político. Posicionar-se diante da vida é um ato político. Ter voz, é para dizer e se dizer. E Teatro que se preze é resistência.
Falar em voz, as atrizes Helga Nemetik e Thainá Gallo cantam lindamente. Broadway, estamos chegando lá. A encenação é primorosa. De um telão de 5 metros por 2,5m, Ney contracena com os cinco atores, de casa. Em um determinado momento seu fiel camareiro ( será que desde os tempos de Irma Vap?) aparece com ele. Mostrando que todos de um espetáculo são importantes e tem o seu papel e função fundamentais.
É mais uma direção brilhante de José Possi Neto, com texto de Heloisa Perissé, conhecida, do grande público, por seus papéis em televisão- e viva os múltiplos talentos de cada um de nós. Destaque para a interpretação de Aloisio de Abreu.
A peça, um musical, mostra o ensaio de um espetáculo que não chega a estrear por causa do início da pandemia. Li que a ideia de um telão vem da necessidade de Ney Latorraca, participar e permanecer em casa, por receio de contaminação por covid. No entanto, vejo que independente dessa precaução- que fez ele muito bem de não dar mole ao acaso- o biólogo Atila Amarino está ai para dizer que prevenção agora é continuar com máscara e alcool gel, para quem lê jornal e sabe-se mortal- foi uma decisão cênica sensacional, belíssima.
Um ator grande feito Ney, de casa e super em casa, ao vivo e ampliado no centro do palco, é lindo de ver e testemunhar. Inovação para nosso Teatro, utilizando bem os recursos que temos disponíveis, sem inibições. Uma epifania.
Assista você se estiver em São Paulo. A temporada no Teatro Faap vai até dia 25 de setembro só. Espero que se prolongue. 500 lugares, mesmo com casa lotada é pouco para tanto talento.
Eu amo esse ator e ele é fantástico. O Teatro Faap eu conheço porque eu assisti as peças do Marcelo Médici lá.
ResponderExcluirBig beijos
Lulu on the sky
Que legal Lulu. Ele é mesmo maravilhoso. Dificil os atores brasileiros terem o merecido reconhecimento não é? Voce tb gosta do Teatro!! Obrigada pelo comentario. Bjos
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