02 novembro 2019

RESGATE DO CORAÇÃO.

      Acabei de assistir um filme daqueles que a gente sabe passo a passo, pata a pata- era sobre elefantes o pano de fundo-  o que vai acontecer. Um casamento se desfaz: o homem não ama mais a mulher, e embora seja sofrido é capaz de dizer a ela e pedir o divórcio quando o filho está partindo para a universidade. É digno, civilizado e menos traíra.
 
   A mulher, resignada com aquele casamento morno, mas decente, havia comprado passagens para uma segunda "honey moon", com direito a safari cinco estrelas, na Africa. Ela vai sozinha então e ali, redescobre a vida. Como em "Comer, Rezar e Amar". Só que sem tanta fartura alimentícia, ou orações em ashrams. Se for comparar, ela descobre que a vida é uma oração. Resgata um elefantinho e cuida dele, e em um ano, sua historia ja é outra. Encontrou um propósito, um amor, e a felicidade de viver em um lugar completamente diferente de Nova York. Bom enredo de sessão da tarde. Mas não desdenhemos tanto assim.
 
   Minha filha fez 19 na semana passada. Já está matriculada em uma faculdade de Direito. E prestará o ENEM amanhã. Enquanto eu assistia o filme, ela estava e ainda está, grudada em uma aula de 12 horas, em comunhão com alguns de seus colegas. Pela primeira vez, comecei a sentir com relação a ela, a conclusão de uma trajetória, e antever a sensação de ninho vazio.. Quando me divorciei Anna tinha 6 anos. Foi um momento extremamente sofrido para nós duas. Vivi grandes gaps de paralisação e não saber o que faria então da vida,  o chão havia saído dos meus pés de forma radical. Uma coisa é ter um filho -americano- indo para a faculdade. Outra, é ver sua pequena começando a alfabetização e se enchendo de problemas cognitivos,  por questões orgânicas, descobriu-se, agravados por mais uma perda em sua vida: a separação dos pais, nada bonita. Tão precoce, para ela. E tardio para mim.

Um dia, em uma viagem, antes desse desfecho infeliz e necessário, Anna perguntou séria: se vocês se separarem, eu ainda vou ser filha de vocês?  Isso partiu minha alma. assim como a dela devia estar em pedacinhos.

Durante esses anos que se passaram fizemos o possível juntas, para viver coisas lindas. Desde viagens, Me lembro de nós duas uma vez na Argentina, ela pequenininha e a cada passeio, a cada almoço, a cada sobremesa!!! Levantávamos os braços e dizíamos: eu mereço!!! E merecíamos mesmo. E merecemos. Fomos algumas vezes para mais longe, minha irmã mora em outro país. Fomos viajando e vivendo. E entendendo que diversas terapias eram necessárias, e vamos que vamos.

O movimento  de mudar de escola até encontrar uma que ajustasse atenção, carinho, acolhimento, e bom ensino, coube a mim. Anna repetiu o 1 ano colegial, por uma escolha consciente. Ela estava em um colégio grande, onde 30 alunos haviam sido reprovados. A escola suspendeu esse resultado e todos passaram. Mas a decisão de tirar Anna desse ambiente escolar, já estava tomada. E ao chegar nessa outra, a coordenadora deu uma explicação tão firme e forte do por que minha filha deveria repetir o primeiro ano, que não tive duvidas: repete sim. Ela disse que o ensino ali era em espiral. Se o aluno não tivesse ido bem no primeiro ano, iria rever a mesma matéria no segundo e no terceiro, sem base. Entendido.
                                             Anna  sempre engraçada, alegre, teatral até.

Deu certo. Com o passar do tempo vi minha filha aprendendo Matemática, Quimica e Física, como todo aluno hoje em dia tem que aprender. O mundo pede que sejam bons em todas as disciplinas necessárias ao curriculo. Não tem mão na cabeça.

 Hoje vejo então essa moça, que ja foi assunto aqui nesse blog desde muito pequena mesmo, pode procurar nessas páginas. O livro, "Mulheres Sem Prazo de Validade" é quase todo dedicado a ela e algumas passagens de sua infância.  Ela que certamente é desde que nasceu e será uma mulher sem rotulagens medíocres ou prazos de validade. Ela sabe pollítica, tem grande capacidade de oratória, mas principalmente, sabe escutar, bem mais do que a média de um adolescente ou um jovem adulto. Anna tem o dom da empatia. Nasceu com ele e foi se aprimorando. Dá grande valor aos nossos antepassados e a história deles. Nossa história, sua história.  Anna sabe de si. E sabe dizer de si. Tem um longo caminho que espero seja largo, iluminado e cheio de horizonte para percorrer e mostra a cada dia que está preparada. Em todo caso, tem a minha mão quando precisa, pode ter certeza.

Então o tal do filme "Resgate do Coração" tem um tanto que ver comigo. Peguei o meu coração em pedacinhos, há muitos anos atrás, e fui colando os caquinhos de forma a ve-lo batendo outra vez. Não por paixão a alguém especifico. Mas por amor a vida e suas inúmeras possíbilidades.                                           
Deixo aqui esse registro, meio mambembe, que como eu já disse antes, faz tanto tempo que deixei de escrever com frequencia que perdi o jeito. Tudo bem.

O que quero deixar aqui  registrado é a felicidade de ver minha filha caminhando com seus próprios ideiais: Direito Ambiental. Não temos elefantes como no filme, mas temos muito a defender. Nossa natureza pede socorro.... E, a constatação  dela ter conseguido. Eu também.  Passar por todas as intempéries da adolescência. E agora ver essa jovem mulher,  de carater firme., verdadeira  e sã.  Talentosa, curiosa e linda.  Parabéns Anna!!! Parabéns para nós.                                                                                             
Lembra do dia em que compramos uma bicicleta de cestinha cor de rosa, um video cassete, por que não tínhamos ainda uma antena de TV por aqui e dois pratinhos, do Mickey, por sinal?  Estavamos começando uma nova história, linda, forte, cheia de alegria e futuro.

                      Parabéns minha filha, você é uma vencedora já!!! Essa primeira vitória de vida
                      adulta, consequencia de tantas outras que vieram antes, é o começo de um caminho.
                      Profissional e pessoal. Que seja um sucesso!!! E que nesse sucesso esteja incluida
                       a sua felicidade.  Beijos e o Amor de sua mãe.

nota: no final  do filme o elefantinho fortalecido, volta para selva. Ele agora pode se virar sozinho.

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