21 setembro 2014

Mad Men . As Melhores Coisas da Vida são Grátis.

     Faz um tempinho andei lendo que minha série preferida, "Mad Men" teria uma sétima temporada. Até hoje não sei em que canal passava, e assisti toda pelo netflix. Ao saber da existência da série, passei a perceber pela mídia, que muita gente não perdia um capítulo. Interessante fenômeno. Por que Mad Men difere das demais:não é comédia, não chega a ser um dramalhão. É um retrato bastante fiel do mundo da publicidade, em um cenário década de 60. Por isso mesmo com direito a muito cigarro, em quase todas as cenas. Ainda não havia lei anti- tabagismo, então aquele fumacê, prova  de que a tensão era muita, está ali na cara do espectador. Muita bebida tb. O whisky tem uma preponderância naquele mercado.
                            Eh fumacê. Primeiro a campanha pronta, depois se pensa na saúde.

Mas  fui até até a sexta e nada de aparecer a próxima,  no netflix. Tudo bem. Peguei um computador daqueles que já está vazio e bastante capenga, e baixei a tal da sétima temporada para assistir. Percebe-se que o tempo passou por que filha, pequena no início, se torna uma adolescente "daquelas". Bonita e ótima atriz, e como personagem, pronta para copiar os piores hábitos dos pais: a aparente frivolidade da mãe, as mentiras e o cinismo do pai,  o cigarro de ambos.
                       Don Draper, a primeira mulher, a filha e a segunda mulher, Megan

Muito bem feita a construção dos personagens. Com exceção da Megan, a segunda mulher de Don, o protagonista da série, que ficou com um caracterização  meio frouxa. Não se torna uma atriz famosa, não fica com Don, é filha de franceses, mas vai morar em Los Angeles. E ali passa a fumar maconha, transar com mulheres. Aliás, fica muito claro que os anos 60 foram libertadores. Pelo menos na série, é uma época mostrada com menos hipocrisia. Todo mundo fazendo o que bem entendia de sua sexualidade, e de suas relações "liquidas",como diria Bauman.  Tudo bem amoral. E talvez seja isso que torna-a  tão especial.

Não tem água com açúcar. A vida é isso aí. Competição, sexo. Uma certa dose de patriotismo americano está por trás: todos tem fé no homem que vai a lua. E que a vida pode continuar assim:evoluindo. Como se aqueles publicitários semi-deuses fossem indestrutíveis. E se não forem, the show must go on.
                                 Harry, o morto sábio é o quarto da esquerda para a direita

 Que o show tem que continuar é bem o que aconteceu no final. Harry, o publicitário mais velho,o fundador da agência e meio pai de todos. O justo, o bacana, que tem um olhar mais generoso com as situações e pessoas,  morre. E aí que os outros personagens se dão conta de que sua saúde poderia estar frágil, ninguém tinha prestado atenção a esse "detalhe". Então  Harry  morre sem aviso prévio. É o fim de tudo ? Não.

Imediatamente passam a discutir o futuro da agência, que finalmente é vendida e incorporada por uma muito maior, sob pena de sucumbir, caso não fosse feita a transação. A "McCann" agência que existe no mundo real, uma multinacional da criação dada a essas fusões compra a pequena, mas criativa  agência da série. E cada sócio, incluindo Don que antes dessa medida estratégica,  seria demitido, vai entrar numa bolada de dólares.
                                         Os protagonistas:Elisabeth Moss e John Hamn.
                                  Aqueles que sacrificaram mesmo qualquer coisa em função do trabalho.

E nos últimos minutos, a série tão realista e que nem por um momento foi chegada a dar uma lição de moral  transgride no seu modelito mundo cão. E numa licença poética,Harry, o morto,mas sábio, aparece cantando, como naqueles filmes musicais franceses e americanos, década de 60 mesmo, aparece para Don, cantando e dançando algo como "The best things of life are Free". Ou seja, as melhores coisas da vida são grátis.

Boa notícia para pessoas viciadas em trabalho e sem nenhuma noção de que a vida é para ser aproveitada,  por que é finita. Coisa que somente Harry mesmo poderia transmitir com credibilidade: morreu. E que as melhores coisas, não estão ali dentro da agência onde time is money e muito money.
São aquelas que como diria Jorge Luis Borges,  se soubesse, teria vivido mais. Aproveitado mais.
Tomado mais chuva, relaxado mais e observado como tudo é bonito, singelo, especial, nesse mundo de curta duração para cada um de nós,  viventes.  E assim termina a série. Com Don de cabeça abaixada, talvez pensando que a  glória  e o glamour, não passam de instantes fugazes.  Como nós, também deveríamos refletir.  E cada publicitário apegado ao santuário criativo e distante da vida real, muito mais ainda.
                                                     Continuo achando Don Draper a cara de um
                                      querido amigo publicitário....mas que se cuida melhor do que
                                                                    o personagem.

Até por que antes da morte, vem a idade e o desemprego. A obsolescência diante de novas tecnologias e de cabeças mais antenadas ao que há de novo. Com mais velocidade de trabalho, mais voracidade para competir. Menos noção de moralidade e humanismo que ainda restasse nos anteriores. Portanto para cada publicitário, existe ainda uma morte antes da morte final. Abram o olho amigos, queridos ex-colegas de trabalho.  A vida é uma só.  Cuidem-se.


INSTANTES
(que dizem, Jorge Luis Borges copiou de alguém, e vindo dele, acho isso muito poético, como já disse antes)

"Se eu pudesse novamente viver a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido. 
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. 
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e profundamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente
de ter bons momentos. 
Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos;
não percam o agora.
Eu era um daqueles que nunca ia
a parte alguma sem um termômetro,
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e,
se voltasse a viver, viajaria mais leve. 
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo" 

8 comentários:

  1. Cam,
    Nunca vi essa série. Aliás ando um pouco decepcionada depois do final lastimável de LOST, quem sabe me animo com essa nova safra de séries.
    Qto ao seu comentário no blog, não entendi a sua dúvida. Os comentários são moderados via blogger, porém é possível tb comentar via face. Basta selecionar a janela na hora de comentar. Qualquer coisa dá um F5 para atualizar.
    Big beijos

    Lulu on the Sky

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    1. Oi Lulu, não é duvida. As vezes eu clico e não abre. Não abre de jeito nenhum.
      Sobre as séries, realmente, eu via pouco Lost, e achava que por isso não entendia nada. O final foi infame. E parecido com N filmes que já foram feitos e as pessoas não sabiam que tinham morrido.
      Não assisto muito as series. Mas esta especialmente é genial. Para o meu gosto... Bjos e boa semana!!!
      Cam

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  2. Camille, hoje eu estava pensando nisso. Coincidência? Pode ser. A diferença é que não tenho empresa muito menos dinheiro rsrsrs.
    Fiquei pensando que se eu tivesse oportunidade de morrer e nascer de novo, eu mesma, muitas coisas eu faria sem medo. Sentiria mais e deixaria meu coração prevalecer sempre. Ele é burro, o coração, mas é o único que nos causa sensações maravilhosas e inesquecíveis.
    Bom domingo, querida!

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    1. Tinha que ter clicado em responder, as vezes esqueço. Ta respondido embaixo. Bjos

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  3. Pois é Clara, o fato é que o coração acelera de verdade em determinados momento de emoção. E aí a gente fala o coração e é o coração mesmo. Se eu pudesse ter uns 20 anos hoje com a maturidade de vida de hoje ,tb seria maravilhoso. Nem precisava morrer e nascer outra vez. Mas acho que voce percebeu uma coisa da série que eu não percebi. Podia ser mesmo um fantasma que apareceu para dizer ao cara viciado em trabalho,para viver mais feliz, o aqui e o agora. Bjossquerida.Boa semana!!!

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  4. Camille, nunca vi este seriado, mas pelo que falas deve ser ótimo, confio no seu taco.
    No entanto, eu sigo apenas um seriado pela tv e que aliás, está ainda em lançamento na Europa a 5a.temporada, falo de Downton Abbey, que amo de paixão, mas agora a temporada no Brasil é só para o meio do ano.
    Quem sabe vou espreitar este que nos fala. Diz aí qual o canal a cabo, não sei!?
    umbeijinho carioca


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    1. Pois eu não sei, hehehehe. Assisti todas as temporadas pelo net flix. Na tv passa uma vez por semana não é? Essas séries depois de passadas, você pode asssitir on line. Sem copiar, guardar arquivo pesado,etc.
      Você coloca Mad Man assistir on line no google e ve as opçoes que aparecem. Tem um que aparece assim "assistir legendado ou dublado", clica nesse, é fácil entender como funciona. Eu assisti esse Mad Man clicando um capitulo por vez. Facil. Se tentar e ficar complicado, depois te explico. Bjosss

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  5. Mad Men é uma grande história e produção. Eu amo isso e recomendo, tem frases que eu amo e que agora será a estreno dos últimos capítulos Eu gosto dele porque eu já vi esse show desde a primeira temporada.

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