Assisti a peça Tribos, com Bruno Fagundes e Antonio Fagundes.
Filho e pai. E a grata surpresa é que a personalidade forte do ator pai não apaga a do ator filho, que faz bonito em cena, interpretando um surdo, que sabe falar, e faz
leitura labial com grande capacidade. Claro que ele é quem melhor se comunica, ali naquela “tribo” , uma família onde cada integrante parece mais voltado para o próprio umbigo.
cartaz da peça, com os nomes dos atores
Interessante metáfora
para esse pai e esse filho. É o Bruno Fagundes ganhando maioridade numa
família de atores: com seu desempenho
nessa peça, ele passa de vez, a ter voz no meio
teatral. Não é mais só um filho do pai. "Infante” -é "aquele que não fala, ainda”. E a gente vê que ali, Bruno dá claramente o seu recado. Aproveita muito bem a oportunidade de ter um pai famoso, que chama público. E
não se encolhe embaixo da mesa. Vale a pena ir ao Teatro para vê-lo.
Bruno Fagundes, ótimo ator
Antônio Fagundes é generoso: faz sua parte, muito
bem, como sempre. E deixa seu filho
brilhar com o personagem mais tridimensional, interessante e cheio de nuances. A peça ganha mais vida e naturalidade quando
a namorada do rapaz surdo entra em cena: a atriz Arieta Corrêa, que também interpreta uma deficiente auditiva ( bem
melhor a palavra surda, do que deficiente alguma coisa, ou portadora de
necessidades...vamos acabar com os eufemismos que escondem preconceito com aquilo que é tão natural, da
vida). Então,como eu ia dizendo a atriz Arieta , tb é surda na peça. E incentiva seu namorado
a falar pela linguagem de sinais. Que aliás, é comparada com a linguagem das palavras. E fica a questão:qual das duas é mais rica? Interessante também esse ângulo da conversa.
Muito bom o texto, que fala do ouvir, do escutar, do dizer. Do
compreender. Do expressar. E especialmente, fala da linguagem. Tudo é linguagem. A maneira de vestir, de
andar , de se comportar, de se
posicionar. É preciso saber interpretar os diversos modos de ser, de cada um.
É disso que se trata nesse espetáculo.
Mas podemos ainda desmembrar e multiplicar o assunto: tem a linguagem teatral no meio disso.
E ao final, Antonio
Fagundes convida a todos para um meio debate, meio palestra. Onde conta
rapidamente e com simpatia, que aquele grupo é uma cooperativa sem patrocínio e portanto,
depende da bilheteria. De nós irmos lá, prestigiar. Fala que assistiram a mesma peça nos
Estados Unidos e era uma concepção completamente diferente. É, claro, uma peça
tem cenário, figurino, luz, atores, modos de interpretar. Tudo isso
regido por um diretor. Em cima do texto de alguém . No caso, a autora inglesa, Nina Raine. E o diretor brasileiro, Ulisses Cruz.
Eles aqui em São Paulo, no TUCA, optaram por um tipo de montagem mais clássica. Sem
fumaças ou cenários super modernos, mas com recursos atuais. Uma
escolha. Fagundes fala também do público Inglês,
capaz de assistir Hamlet, umas 20 vezes , só
para saber como aquele grupo X, resolveu a nova montagem. Maravilhoso isso.
Difícil de se conseguir num Brasil ainda engatinhante culturalmente. Até
por que a dinâmica e o interesse pela cultura é uma conseqüência da Educação. E como ainda estamos hoje em
dia? Paulo Freire, que poderia com seu método, alfabetizar o Brasil inteiro em dois anos, já morreu . Nosso grande Educador não foi
aproveitado em vida. Bem que poderia ser homenageado agora, com um país que saiba ler, escrever, votar e ir ao Teatro.
O grupo de atores trabalha em cooperativa.
Parabéns para vocês.
Enquanto isso, algumas pessoas já podem ir ao Teatro. E se podem, por favor, é para ir mesmo. Minha
filha de 13 anos gostou muito da peça.
Eu também comecei a ir ao Teatro “adulto”mais ou menos com essa idade. E
considero parte da educação de alguém. Assim como ler bons livros, ver bons filmes, ouvir música
de qualidade. Fazer aula de dança. Tudo soma.
Seja qual for a sua
tribo, vá ao Teatro. É um diálogo de
muitas vozes, em tempo real. É o hábito de ficar calado enquanto o outro fala coisas interessantes. Ouvir, compreender. Pensa bem, que lindo. Quantas possibilidades de escuta esse mundo nos oferece: do canto dos passarinhos, aos atores de Teatro.
A cooperativa de atores informa ainda que, em
agosto, o grupo fará turnê com esse espetáculo em Portugal . E eu, concluo esse post por aqui. Sugerindo que você inclua o Teatro nos bons hábitos da sua
vida. E aproveite para assistir Tribos. Vale o ingresso, com certeza.
foi uma peça que fiquei com muita vontade de ver. beijos, pedrita
ResponderExcluirÉ boa, voce vai gostar. Bjos
ExcluirAdorei teu texto, Camille. Como sempre, soube expressar em palavras o que viu e sentiu. Beijo grande!
ResponderExcluirQue bom que você gostou. Volte sempre. E deixe seu nome. Um abraço.
ExcluirCam