12 maio 2014

O Homem Duplicado.

 Assisti esse filme no fim de semana. O protagonista é o ator Jake Gyllenhaal que está muito bem no personagem duplo. Só muito mais tarde entendi que é  baseado em um romance de Saramago. Que provavelmente eu não teria lido. Mas que ao ver o filme, e sem essa informação, imaginei uma porção de  possibilidades  para explicar a existência de um  homem  duplo: esquizofrenia,  clone, irmão gêmeo ( o que logo se descarta) , ser de outro planeta, coincidência. Fica um suspense. Até por que no começo do filme é tudo muito escuro, e alguém entra em um enorme galpão, onde se ouve, mas não se vê, que ali está cheio de pessoas. Indigentes? Clonados e abandonados ou presos? Não dá para saber. Mesmo.

Mais tarde encontro na internet uma  crítica, de autor Português, a única. Por que ainda não está em nossos cinemas. O crítico estava revoltado com a má qualidade do filme, dizia ele: fotografia horrível, direção péssima e arrogante. O profissional está pensando que é algum Lars von Triers para ousar, e no entanto ser tão medíocre, num filme que não se sabe a que veio?

Pois olha, eu não entendi que o filme veio a passeio. Por que desde o início me deixou intrigada com os dois personagens: um era professor de História. E em algum momento fala para seus alunos que- "Hegel  acreditava que um evento sempre acontece duas vezes. E Marx completa, afirmando que a segunda é sempre uma farsa". Esse professor, pelo seu jeitão, parecia ser o "evento original." E o outro, um ator de filmes medíocres. Aquele que está se fazendo passar pelo que não é? Pode ser . Mas um ator é alguém que empresta seu corpo para dizer do desejo do Outro ou de outros, sem que isso seja uma impostura, mas uma profissão. Enfim, terminou  o filme e o enigma não se desfez.  Ainda assim dá para tirar um caldo: nós somos seres cheios de ambiguidades . Queremos uma coisa e também queremos outra, que aparentemente se contradizem. Somos mais do que duplos, somos múltiplos, em tantos momentos. Ninguém é uma coisa só. Não é a toa que os dois personagens lidavam com questões tão diversas e tão congruentes: através da História o ser humano vai mudando de comportamento, seja pela cultura, o espírito da época. Logo não se pode dizer "o homem". Mas diversos momentos distintos, se não de evolução, de maturidade da nossa espécie.  Assim como o ator vive seus diversos papéis.

E no final das contas, não sabemos quem é a réplica e quem é o original. E assim também fica em aberto a questão inicial. Se um evento sempre se repete, e se o segundo é sempre uma farsa, qual dos dois homens vale mais? Ou o que importa de fato se um veio primeiro e o outro depois. Qual é o segundo evento? E a que Marx se referia ao dizer que o segundo evento é uma farsa. E por que nos apegamos às frases só por que vem de gênios aparentemente inquestionáveis?

Então o filme vale. Por que entretém e nos faz pensar. Se não tem um final claro, também não é enig
mático assim para tanto chute na canela, que a crítica dá. Vale o ingresso sim.  Embora eu não tenha pagado nada para assisti-lo.


cartaz do filme com o título original... é simplezinho, mas faz algum sentido.

4 comentários:

  1. fiquei curiosa em ver. então não li em detalhes. beijos, pedrita

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