05 dezembro 2010

Megamente. Chega de maniqueismos nos contos para crianças.


Hoje levei minha filha ao cinema. Ou melhor, fui "levada" por ela, que queria assistir o mais recente Harry Potter pela segunda vez. A sessão dublada não tinha mais entradas. Então optamos pelo Megamente. Show de escolha.
É a história de dois super-heróis que tal e qual o Superman baixam aqui na nossa Terra, bebêzinhos, sozinhos e dentro de uma nave espacial. Megaman é encontrado por uma famíllia estruturada. E Megamente, por presidiários que desde bebê o "educam" conforme sua moral. Bem engraçado.
Assim, Megamente vai se esbarrando e perdendo pela vida afora, a vez para Megaman, que se torna o herói da cidade. Na falta de alternativas, Megamente decide por "aquilo que sabe fazer de bom: ser mau". E se torna o vilão do desenho animado. O mais legal é que a trama vai se desenrolando de forma inovadora.
No final percebemos que Megaman cansado de estar sempre no mesmo lugar- o de super herói- decide forjar a propria morte e desaparece do cenário. Megamente, culpando-se por tal morte e sem ter mais com quem lutar, começa a achar a vida sem sentido. É especialmente interessante o diálogo que tem com "Criado", um bichinho que veio com ele na nave espacial- Criado pergunta: " agora você tem tudo que sempre quis. E nao está feliz?" - Ele balança a cabeça dizendo que nao. Claro que não, a um homem que tenha TUDO de fato, NADA resta.
E assim vemos a transformaçao, a passagem de Megamente de um estado a outro. Ele se torna o herói da cidade e fica com a mocinha. Isso depois de muitas peripécias que vale a pena assistir prestando atenção, por que não é apenas uma historinha. É uma fábula de conteúdo universal, e conteúdo bem rico.
Bom saber que as histórias para crianças continuam evoluindo muito e bem. O longametragem tem heróis de carater um pouco duvidoso, mas não totalmente sem carater. Não é uma história amoral e não mostra psicopatas como alguns vilões, personagens de Batman por exemplo.
Tanto que no final Anna falou: "essa história tem uma moral, mas qual é a moral principal? " Não é por ser minha filha não, mas... ( corujinha) que menina inteligente. Certamente é isso aí , a história tem uma moral principal, e várias outras questões de conteúdo relevante para um caráter em formação. O bom e o mau, o bonito e o feio, o valorizado socialmente e o rejeitado vão se mesclando através de um novo olhar. Como se constrói um super herói?
Shrek por exemplo é um filme mais apaixonante, com seus diversos personagens importantes e caristmaticos, como a linda Fiona que se torna uma princesa mostrinha, que arrota e solta pum ao invés de seu par, o ogro Shrek, se tornar um lindo principe como seria o "esperado". Outro que segue a mesma linha é "Meu Malvado Preferido". Mostram com muita clareza que o mocinho já não é mais o mesmo. E que a melhor forma de entender um super herói é desmontando e montando de novo, como se faz com os brinquedos. Hoje já não fazem super heróis rigidos como antigamente. Um herói se constrói, desconstruindo.
Beijos e boa semana,
Cam
ps: a propósito do universo das crianças- sabe qual é a comida que liga e desliga? Strog-on-off. Minha filha acabou de me contar no jantar . É invenção do meu padrasto piadista. Boa.

6 comentários:

  1. Também percebi esta diferença nos filmes, ainda bem, porque as crianças são muito inteligentes e cada vez mais precoces.
    Fui verificar os seguidores lá do blog e acabei me seguindo e não consigo deletar,rsrs
    mas deu tudo certo, deve ter sido um problema temporário mesmo.
    Beijos

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  2. Oi Camille.
    A existência do herói pressupõe a presença do vilão. Não, não é bem assim, é mais radical. Na verdade, sem bandido não tem mocinho. O Bem só faz sentido se for para se contrapor ao Mal. Um não vive sem o outro. Extrapolando (e bota exagero nisto), o que seria de Cristo sem a traição de Judas?
    Quando balbuciei esta dúvida na primeira década de vida - em vias de concluir o catecismo e me habilitar para fazer a 1ª Comunhão - fui aconselhado pela catecista, irmã Teresinha, a não perturbar minha mente pré-adolescente com este tipo de questionamento. Segui seu conselho (foi fácil ocupar o pensamento com garotas).
    Mais tarde, ao tomar conhecimento de pensadores iconoclastas como lord Bertrand Russel, a pergunta voltou: existe herói sem vilão?
    ***
    Putz, nem sempre consigo controlar o filósofo de botequim que existe em mim. Sorry.
    ***
    Para me redimir do blábláblá pseudo-filosófico, uma indicação entusiasmada para você e sua filha: Histórias de Contos da Fadas, de Oscar Wilde. É um livro de contos que o escriba irlandês escreveu para seus filhos (o que veio depois não tem nada a ver). Se for necessário definir o livro em uma palavra, esta é m a r a v i l h o s o. Dei de presente para minha Rainha Preta Mari Timm quando tinha 10 anos. Até hoje ela guarda consigo. É uma obra prima e desconhecida da literatura infantil, talvez pelas atribulações posteriores que determinaram o infortúnio de Wilde. Mas vale a pena garimpar os sebos de boa qualidade em busca desta pepita literária. Em último caso, me disponho a te mandar cópia em xerox. Tenho certeza que tua filha vai adorar. E você também.

    Beijo e boa semana.

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  3. Olá, Camille! Primeira vez por aqui e, de pronto, meus parabéns pelo bom texto e pelas mensagens nele contidas! Só discordo quanto ao Batman (de quem sou fã, ré, ré) e quanto aos "maniqueísmos" das estórias infantis: eles devem existir, isto é fato! São os primeiros contatos que as crianças têm com as noções de "bem" e de "mal", "herói" e "vilão", "princesas" e "bruxas más": não por acaso, os contos universais e Walt Disney soam eternos por serem bons e universais! Mas, depois que os pimpolhos crescem, é legal não levar tudo o mais tão a sério - e é aí que entram os "novos contos para crianças", a mostrar o outro lado da coisa... Tudo é válido, afinal! E parabéns para sua pimpolha inteligente: muito legal discutir cinema com os filhos, enriquece culturalmente!

    A propósito, falo um tantinho de cinema e de minha filhota no meu blogue, para onde te convido a ir e comentar; outra dica é a de um outro 'site' que, assim como o seu, também apresenta um diferencial sobre falar de cuidar de crianças (falo isso porque acho muito chatos alguns diarinhos de "mamães" que vejo por aí): ele, assim como você, brinca com o universo dos clichês dos super-heróis e se auto-intitula "Super-Pai"! Parabéns: sempre bom ver gente inventiva sobre assuntos que poderiam cair no clichê! Abração!

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  4. oi cam, vim do blog o q elas estão lendo, eu vi o trailer dessa animação e fiquei com vontade de ver. eu amo animações. algumas tem roteiros muito chapados, mas concordo com vc, vários são muito ricos como coraline e a noiva cadáver. ah, eu não gosto do shrek, acho preconceituoso a bela ficar ogra, como se não pudesse uma bela gostar de um ogro. vou ver seus outros posts. quanto ao livro do miguel sanches neto, realmente eu fui econômica nas respostas, até pedi desculpas a ele. ele tem um blog http://herdandoumabiblioteca.blogspot.com/
    e eu escrevi um post mais detalhado no meu blog depois que li o livro. vou inclusive ver se envio pras meninas do o q elas estão lendo pra elas postaram futuramente. http://mataharie007.blogspot.com/2010/09/primeira-mulher.html
    beijos, pedrita

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  5. Sinceramente eu nunca gostei de super heróis, embora tivesse um herói em casa na figura de meu pai. Mas ele era assim porque eu simplesmente o admirava, então era o meu herói.
    Mas a figura de herói pra mim sempre foi muito tola, boba e completamente sem sentido. Eles sempre estão brigando por algo e não fazem nada sem uma boa briga. O batman que você citou pra mim sempre foi mais um vilão. Mas nunca o compreendi muito bem...
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    E quanto aos desenhos e filmes, eu ainda sou do tempo de corrida maluca (adorava o cachorro do Dic Vigarista) que aqui ficou conhecido como rabugento - o Mudley. E a turma do Zé Colméia. kkkkkkkkkkkkkkk
    Viajei.
    Bacio carissima

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  6. Entendi e concordei com seu ponto de vista, minha cara! E quase ia esquecendo: o 'site' de que te falei é www.osuperpai.blogspot.com

    Abração e apareça sempre com sua adorável filha de 10 anos (sim, a minha fez seis meses no último dia 30/1º - ficou difícil de entender no texto?!)!

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