18 junho 2023

Acho que a série Black Mirror queimou e a tela não acende mais.

     Sabe quando você liga seu celular e aparece apenas aquela tela escura e sem vida... é ele parou de funcionar. Está na hora de comprar um novo. A gente já percebeu como as novas tecnologias preparam seus produtos para terem vida curta e serem rapidamente substituídos. É o capitalismo cada vez mais selvagem, o consumo desenfreado e suas múltiplas consequências. O planeta é que o diga, com tanto lixo eletrônico descartado. E tanta natureza sucateada para que novos produtos sejam feitos. Nossos biomas em desequilíbrio. Quem leu sobre isso, ou  pelo menos se interessou, durante o confinamento na pandemia já se deu conta do quanto tudo está interligado e não apenas a internet: a própria vida, o meio ambiente, o fim da Terra. 

  Mas não são apenas nossos aparelhos que compramos para durar, que caem em desgraça. Assisti a nova temporada de Black Mirror. E parece que a criatividade que deu origem a uma das séries mais instigantes dos últimos tempos, está em extinção. 

 Do primeiro capítulo da  primeira temporada, quando a sanha de haters exigia que o primeiro ministro ingles transasse com uma porca- era violenta a coisa sim- em cadeia nacional para que a "rainha do facebook" fosse libertada de um suposto sequestro, dava o tom do que viria a seguir. Situações antes inimagináveis, onde o conhecimento de informática, robótica, comunicação, ciências de todos os naipes, comportamento do consumidor, deslizariam por roteiros ágeis, assustadores, surpreendentes e inteligentes em  mais algumas temporadas.

  Ai  sexta feira eu entro na rede e decido "maratonar" a sexta temporada. Começa o primeiro episódio: uma mulher tem sua vida copiada no streaming, ela vive aqui e aparece ali na tela quase em tempo real. Só que. Selma Hayek ( que eu adoro desde Frida) faz o papel da vítima clonada na ficção- ficção não, por que é a vida real dela, ok.  Mas está representada por essa atriz, que de fato não estaria interpretando a vivente de enredo copiado,  a imagem de Selma é recriada artificialmente, para contar a história de vida da vítima em questão. Das vítimas.

 Enrolado, mas nem tanto. Taí, a moral da história é a de que não costumamos prestar atenção no contrato que damos anuência- será que você já leu algum deles- pergunto- quando  resolvemos fazer parte de uma rede social ou contratar um streaming.  Sabe aquele boato que surge de vez em quando no velho e bom FB dizendo que "a partir de amanha  nossas fotos e fatos poderão ser usados como eles bem entenderem"... por ai. Somado ao fato de que -existe sim uma escuta- nos sistemas que ligam os celulares e, nossa vida pode estar sendo escutada e aproveitada em algum folhetim.. vai saber. Bom saber mesmo. Tá, boa. Meio arrastado o episódio, mas gostei. vamos continuar.

O segundo episódio fala de uma cidadezinha deserta, devastada no passado por notícias de assassinatos de um suposto torturador. Hum, assiste esse, você. O fato de ter filmadoras antigas e novas,  e máquinas fotográficas. não quer dizer nada. Esse episódio francamente já está fugindo muito da idéia inicial. 

 Terceiro, decido pular e assistir um que tem um nome de mulher. Ela vira lobisomem. Hein... embora a moral do enredo queira mostrar a morbidez e falta de ética do humano, via esses fotógrafos "paparazzi.".. não tem nada que ver diretamente com "Black Mirror". E o próximo episódio se chama "Demonio". Aí desisto. Não dei um spoiler. Só um sinal de alerta caso você como eu, sejá fã da série. Não me acendeu a imaginação, curiosidade, nem aquele frio na barriga de pensar no que a tecnologia é capaz. O lado bom disso: é possível que nossa capacidade de pensar seja muito maior do que as novas tecnologias que logo se tornam obsoletas. E portanto, a série teria ficado datada ou sem assunto. 

 O lado melhor ainda é que eu desliguei o computador e fui ler "O que é o racismo estrutural" de Silvio Almeida. Ali tem um enigma a ser desvendado- estrutural, por que a utilização dessa palavra. Vale a leitura, Melhor do que perder a cabeça com uma série de streaming, é mergulhar fundo nas questões mais importantes que nos faz menos humanos. O racismo é uma delas. Entenda como esse conceito foi construído especificamente para a manutenção de privilégios da branquitude, arrogante e vergonhosa em sua capacidade segregadora. Que essa temporada de horror, há mais de 500 anos no Brasil, finalmente termine.. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário


COMENTE, DÊ A SUA OPINIÃO. Você é a pessoa mais importante para quem escreve um blog: aquela que lê, que gosta ou não gosta, e DIALOGA.
Bem vindas. Bem vindos. Você pode comentar, escrever seu nome e para facilitar, clicar na opção "anonimo", ou pode se inscrever e comentar. Acho a opção, que se coloca o nome e uma forma de contato, + a opçao anonimo, VALIDA. Grata e aguardo seu comentário.

Todos os dias perdemos as olimpíadas, basta olhar no instagram

      Por comparação,  tem sempre alguém melhor do que você, do que eu, do que nós. Não se preocupe. Você não ganhará nem o primeiro lugar, ...