Sabe quando você liga seu celular e aparece apenas aquela tela escura e sem vida... é ele parou de funcionar. Está na hora de comprar um novo. A gente já percebeu como as novas tecnologias preparam seus produtos para terem vida curta e serem rapidamente substituídos. É o capitalismo cada vez mais selvagem, o consumo desenfreado e suas múltiplas consequências. O planeta é que o diga, com tanto lixo eletrônico descartado. E tanta natureza sucateada para que novos produtos sejam feitos. Nossos biomas em desequilíbrio. Quem leu sobre isso, ou pelo menos se interessou, durante o confinamento na pandemia já se deu conta do quanto tudo está interligado e não apenas a internet: a própria vida, o meio ambiente, o fim da Terra.
Mas não são apenas nossos aparelhos que compramos para durar, que caem em desgraça. Assisti a nova temporada de Black Mirror. E parece que a criatividade que deu origem a uma das séries mais instigantes dos últimos tempos, está em extinção.
Do primeiro capítulo da primeira temporada, quando a sanha de haters exigia que o primeiro ministro ingles transasse com uma porca- era violenta a coisa sim- em cadeia nacional para que a "rainha do facebook" fosse libertada de um suposto sequestro, dava o tom do que viria a seguir. Situações antes inimagináveis, onde o conhecimento de informática, robótica, comunicação, ciências de todos os naipes, comportamento do consumidor, deslizariam por roteiros ágeis, assustadores, surpreendentes e inteligentes em mais algumas temporadas.
Ai sexta feira eu entro na rede e decido "maratonar" a sexta temporada. Começa o primeiro episódio: uma mulher tem sua vida copiada no streaming, ela vive aqui e aparece ali na tela quase em tempo real. Só que. Selma Hayek ( que eu adoro desde Frida) faz o papel da vítima clonada na ficção- ficção não, por que é a vida real dela, ok. Mas está representada por essa atriz, que de fato não estaria interpretando a vivente de enredo copiado, a imagem de Selma é recriada artificialmente, para contar a história de vida da vítima em questão. Das vítimas.
Enrolado, mas nem tanto. Taí, a moral da história é a de que não costumamos prestar atenção no contrato que damos anuência- será que você já leu algum deles- pergunto- quando resolvemos fazer parte de uma rede social ou contratar um streaming. Sabe aquele boato que surge de vez em quando no velho e bom FB dizendo que "a partir de amanha nossas fotos e fatos poderão ser usados como eles bem entenderem"... por ai. Somado ao fato de que -existe sim uma escuta- nos sistemas que ligam os celulares e, nossa vida pode estar sendo escutada e aproveitada em algum folhetim.. vai saber. Bom saber mesmo. Tá, boa. Meio arrastado o episódio, mas gostei. vamos continuar.
O segundo episódio fala de uma cidadezinha deserta, devastada no passado por notícias de assassinatos de um suposto torturador. Hum, assiste esse, você. O fato de ter filmadoras antigas e novas, e máquinas fotográficas. não quer dizer nada. Esse episódio francamente já está fugindo muito da idéia inicial.
Terceiro, decido pular e assistir um que tem um nome de mulher. Ela vira lobisomem. Hein... embora a moral do enredo queira mostrar a morbidez e falta de ética do humano, via esses fotógrafos "paparazzi.".. não tem nada que ver diretamente com "Black Mirror". E o próximo episódio se chama "Demonio". Aí desisto. Não dei um spoiler. Só um sinal de alerta caso você como eu, sejá fã da série. Não me acendeu a imaginação, curiosidade, nem aquele frio na barriga de pensar no que a tecnologia é capaz. O lado bom disso: é possível que nossa capacidade de pensar seja muito maior do que as novas tecnologias que logo se tornam obsoletas. E portanto, a série teria ficado datada ou sem assunto.
O lado melhor ainda é que eu desliguei o computador e fui ler "O que é o racismo estrutural" de Silvio Almeida. Ali tem um enigma a ser desvendado- estrutural, por que a utilização dessa palavra. Vale a leitura, Melhor do que perder a cabeça com uma série de streaming, é mergulhar fundo nas questões mais importantes que nos faz menos humanos. O racismo é uma delas. Entenda como esse conceito foi construído especificamente para a manutenção de privilégios da branquitude, arrogante e vergonhosa em sua capacidade segregadora. Que essa temporada de horror, há mais de 500 anos no Brasil, finalmente termine..
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