Sexta-feira tinha festa de São Pedro no território da FSP da USP. Mas tinha também outro arriá muito mais animado: o "primeiro encontro intersetorial NUPSI SP." Organizado pelos professores Calderoni: Davi e Maria Lucia. Um casal muito especial que, aos poucos, venho conhecendo. Gente que faz.
Pois bem, faziam parte da mesa: Joaquim Mello , coordenador do Banco Palmas, Paul Singer, Rosane Meira ( copiei tudo manuscrito e qualquer erro de grafia, mudo depois. Isso é Blog, nada de teses, só informaçao dinâmica). Paulo Rogerio Galo , Eduardo Suplicy. E o convidado estrangeiro, Guy Standing, presidente da rede mundial de renda básica, e autor do livro The Precariat- The New Dangerous Class ( O Precariado. A Nova e Perigosa Classe( social).
Mesa bonita e sem pose. Chega uma hora em que o sujeito sabe que é preciso despir-se de sua postura academica, de todos os seus belos títulos e fazer valer sua estada nessa Terra como ser humano: todos iguais. Cada um na sua singularidade. Senão um encontro desses nem vale a pena. E por isso, mais ainda, valeu. Era gente falando e gente ouvindo. Uma beleza de situação.
E o que estava na mesa? Comida para todo o mundo, sem exceção. Ou seja, "o encontro da renda básica com a economia solidária". E a emergencia dessa nova classe, nesse mundo globalizado que vivemos hoje: o "precariado". Uma classe que cresce, e muito. Abaixo do proletariado e acima do que se chama de "lumpem", os desempregados crônicos, que trabalham eventualmente e existem até hoje, ao meu ver, com uma função social bastante terrível : manter o salário mínimo num patamar desumanamente baixo. A concorrência dos desesperados: se você "chiar" por causa do teu salário, existo eu- do lumpem, para tirar o teu lugar- pois aceitarei qualquer coisa.
E o que esse assunto relativo a Economia e Política tem a ver com Psicopatologia, com o NUPSI SP? Tudo. Finalmente a Psicologia e a Psicopatologia, pelo menos aos meus olhos, percebem que há estreita ligaçao de tudo com tudo. Coisa que a Psicanálise sempre soube. Freud tinha toda razão quando escreveu sobre o mal-estar da civilização. Marx tb tinha toda clareza quando apontou as contradições entre o capital e o trabalho. Ser humano já é uma arte, uma luta, uma força renovada de fé na vida e no haver. Agora, ser e estar no olho do furacão de uma sociedade capitalista como a nossa, onde a barbárie humana ( ah somos bárbaros sim e não no sentido paulista-de" bacanérrimos"- somos bárbaros como Átila, o rei dos Hunos. Aquele que por onde passava não nascia grama)
Tudo queremos e nada nos satisfaz. É da nossa condição. Repara numa criança: você dá um brinquedo. Ela brinca, brinca, e depois deixa de lado para querer outra coisa. E quanto mais tiver, mais indiferente - no sentido ruim da indiferença- ela será, nesse mundo de excesso - para uns. E de escassez para os outros.
Assim, vamos ao que interessa: como pode uma pessoa ter saúde mental e física se não tem condiçoes mínimas de sobrevivência? É, não pode. Se não tem o que comer, onde dormir, para falar do mínimo dos mínimos, como vai ser coradinho, risonho, criativo o nosso ilustrissimo semelhante?
Setores da sociedade, brasileira e estrangeira vem se unindo para discutir o que fazer. E o que é melhor: de fato, fazer.
Essa idéia da economia solidária existe há uns trinta anos na França e começou no Brasil, pelo que entendi, no Ceará em 1998. Quando pescadores foram expulsos pela especulação imobiliária, da orla marítima de Fortaleza e assim, se organizaram como comunidade, no Conjunto Palmeira, na periferia da cidade. Onde hoje existe um banco voltado ao micro-crédito de incentivo ao desenvolvimento: o Banco Palmas. Com uma moeda paralela que só circula e vale naquele bairro. No Banco da comunidade, a moeda que vigora no Brasil - o Real- é trocado pela moeda local, que vale mais. Com essa nova moeda na mão, a população tem mais poder de compra. Pode consumir mais. A comunidade gera e retém recursos. E assim, amplia sua capacidade de produção. Lindo demais? Sim, solução simples na veia. Princípio da abundância.
A outra questão que foi discutida nesse encontro do dia 29 de junho, é também de alta relevância. Com a globalização e o processo contínuo de terceirização de mão de obra, existe um contingente imenso da população mundial que precisa "se virar " todo o tempo, sem a estabilidade mínima que um emprego traz. Sem carteira assinada, salário certo no final do mês, surge uma classe competitiva, estressada e sem os valores sindicais do passado. Tudo é novo, inclusive o jeito de pensar e olhar o mundo. Uma população que tem direito à vida, mas não tem os famosos "direitos" adquiridos. Diferente do lumpem está sempre no mercado, trabalhando, lutando por seu lugar ao sol, sempre demosntrando competência, por que o tal lugar junto ao astro rei está realmente escasso. É preciso então sair da sombra. E o que o autor de "O Precariado" dizia ali é que, há um contingente populacional muito jovem, no mundo inteiro, que precisa unir-se e gerar seus direitos, sua ética de trabalho, sua estabilidade mínima. Senão o estresse se torna a condição "normal" de vida. E quem aguenta? A maior parte das pessoas. Mas doente, agressiva, desumanamente humana.
Essas são as primeirissimas impressões de um encontro que foi de uma riqueza em temas e em presença, como os representantes das populaçoes quilombolas do Estado de São Paulo, convidadas pelo professor Davi Calderoni e pela professora Maria Lúcia. Como também a presença de representantes da equipe interdisciplinar da Universidade de Mato Grosso, que atua junto às populações sub-empregadas, "onde falta identidade ocupacional que lhes traga referencia, pertencimento junto a sociedade"- vindas com o professor Oscar que tb fez parte dessa mesa farta, e agora me faltou seu sobrenome, que ja ja coloco aqui.
O mundo ja mudou e continua em um processo de transformação avassalador. Se a gente quiser se postar na frente da televisao e assistir novela, fingindo que nada se passa la fora, pode. Tudo pode.
Mas diante da escolha alienada, que ninguém reclame depois, quando Inês estiver pra lá de morta, comida e mal-digerida. Portanto chegou a hora de nossa gente bronzeada ou não -nós- mostrarmos valor. Como novos baianos, novos humanos, com um novo olhar para realidade que nos cerca. Vem que é bom. Aliás é muito melhor esse cara a cara do que o facebook ou a talentosa Adriana Esteves e suas maldades. Na Avenida chamada Brasil vem vindo um bonde. Tou dentro.
Me resta agora elogiar o acontecido: realizar e de um jeito tão bonito e forte, um encontro como esse no Brasil , é no muque. Coisa de gente de fibra. Parabéns ao casal Calderoni.
Depois eu conto mais e mais bem dito.
Beijos,
Camille/Pauline Herbach
PS: um ps dos mais esclarecedores- não faço parte de partido político nenhum, muito menos do PT. Mas assisti esse encontro e fiquei feliz, eu, inteira.
(imagens encontradas no Google e emprestadas por uma boa causa. Grata.)
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