31 agosto 2010

A Single Man ( Direito de Amar)


Filme lindo, reflexivo, até sufocante. Assisti em casa e parei várias vezes o dvd para me dedicar a outros afazeres. Por que de vez em quando a gente esbarra em um filme que de fato presta. E aí tem vontade que ele não acabe. Como um sonho talvez, ou um pacote de balas que a gente tentar não comer sem parar, para poder saborear.
O que tem de tão bom nesse filme? Talvez um senso de realidade raro nas tramas. Começa com a morte do companheiro de um outro homem. As lembranças do que ficou e sua sensação de vazio. Colin Firth( o noivo de Bridget Jones, para fazer uma referencia bem leve) é o protagonista. Bonito, sensual e tudo, tudo de bom como ator. Ele consegue ser alguém sem idade. Pouca maquiagem numa trajetória de 16 anos de narrativa. E muita expressividade. Você que assiste e sente por e com ele.

Talvez por isso mesmo, a homossexualidade masculina tenha aparecido para mim neste filme com um brilho mais intenso do que em outras histórias. Ele mostra uma escolha natural, de quem experimentou tudo e preferiu alguém do mesmo sexo. E deixando de lado a perspectiva narcísica do lance, ou qualquer teoria psicanalítica, que caberia perfeitamente incluir aqui, prefiro pensar no ser humano que nada sabe sobre isso. Fica mais gostoso, interessante e bonito.

A estética do mundo gay é bem enquadrada ali. Não a do estereótipo, mas a do bom gosto. O companheiro que morreu era arquiteto, a casa em que viviam era bonita, atemporal, elegantemente aconchegante. E os corpos perfeitos dos personagens, são bonitos de ver. De se ver um ao outro como em um espelho. Nada de celulites, cabelos ressecados, unhas por fazer. Ops, entrou a mulherzinha no texto. Ou ops, entrou, inevitável, a teoria?

Não. O filme é mais que isso. Mais do que o universo masculino gay e sua aparentemente e admirável imensa liberdade mesmo nos anos 60. É o universo humano. Alguém que perdeu alguém, tentando ver a partir daí, um sentido para a vida. E cheio de sutilezas mostradas pelo estilista- diretor estreante, Tom Ford: quando o protagonista consegue finalmente dar uma respirada, uma aliviada de suas angústias, ele abre a janela e o som da noite, dos passarinhos, o brilho da lua, pela primeira vez aparecem como foco. E o ator mostra com clareza, a perspectiva do personagem de voltar a amar todas as pequenas e grandes coisas que já lhe passavam desapercebidas.

O filme é tremendamente sensual. E existe um subtexto que vira texto no diálogo do protagonista com um garoto, seu aluno da universidade, bem lá para o final: "a gente só consegue ver uma pessoa pelo exterior. Eu pensei que você fosse outra coisa" E o protagonista responde:" eu sou exatamente o que você está vendo. ( Pausa) Se prestar atenção".

Um enredo que fala sobre como os sentimentos humanos vão construindo a própria realidade. E haja humanidade para assistir. Esse vale o ingresso.
(still encontrado em busca no Google)

5 comentários:

  1. Fiquei com muita vontade de assistir, Cam... Pôxa, todos os assuntos que acho interessante juntos, inclusive o relacionamento humano.

    Minha mais recente apreciação do cinema quando o tema tratava do homossexualismo foi "La Mala Educación". Foi traumático. Mas me deu um banho de realismo, só que a duros golpes. "Kitsch", como dizem dos trabalhos de Almodóvar.

    Foi fantástico seu comentário sobre os poemas de Pessoa... Fiquei tonta. Só tenho a agradecer.

    Bjs!

    Michelle

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  2. Cam, fala dos corpos perfeitos como se fosse uma exigência feminina e o mundo é em sua essência machista, o cinema, a moda... as leis humanas e sociais, são feitas pelos homens e bem recente, as mulheres começaram a decidir. YSL colocou mulheres de ternos e Coco Chanel, olhando pelo lado real da exploração sexual, colocou mulher de mini saias; isto foi avanço ou foi para agradar homens e atiçar o sexo pelo sexo competitivo! Mulheres entre si, brigando por uma aparência perfeita para quê? Não fugi do tema, apenas me alonguei para dizer que, se os personagens fossem dois homens barrigudos, velhos e carecas, teria a mesma temática. Estou comentando superficialmente e anotei para assistir. Beijus,

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  3. Anônimo14:42

    Realmente Luma, se fossem dois velhos carecas e barrigudos, ia ficar um pouco mais dramatico, talvez quase impossivel de assistir. Essa estetica machista é dose...Heheheh. Estou brincando, mas entendi perfeitamente. Uma rasga o sutia e vem a outra e coloca mais rendinha. O mundo é cruel, ambivalente, sem moral e sem humildade. E a gente que durma com um barulho desse. Vai nos influenciar claro, o meio ambiente tem "nois "no meio....Bjos

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  4. Oi Cam! Não vi o filme, mas fiquei curiosa, especialmente pela frase com a qual você fecha o seu post: "sou exatamente o que você está vendo. Se prestar atenção". Um beijo, Deia

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  5. é lindo mesmo esse filme, muito delicado e muito triste. a dor de perder alguém q amamos é insuportável e esse filme retrata com uma delicadeza e dor belíssimas. beijos, pedrita

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