Hoje no meio da tarde escuto um tok, tok na porta da cozinha. Era minha vizinha de 92 anos que sentiu um cheirinho gostoso e estava se perguntando o que estaria sendo preparado na minha casa. Era carne assada e como já estava cozida, perguntei se queria um pedaço. Ela disse que sim "vou aceitar um pedacinho". Perguntei se queria entrar com sua acompanhante para comer, mas ela disse que não, que estava descendo para passear no jardim do prédio. Pegou o pratinho com a carne, agradeceu, abriu seu apt , colocou na cozinha e desceu. Tranquila.
Quem de nós tem a coragem de bater na casa do vizinho para provar a comidinha cheirosa que está sendo feita? Eu não tenho não. E nem a minha vizinha tinha há uns meses atrás. Quando me mudei para esse prédio a primeira vez, a vizinha tinha 82 anos e impressionava por sua aparencia jovem e sua disposição para fazer caminhadas e tudo o mais. Era uma senhora cheia de energia.
Há dois anos, quando voltei para cá, ela não havia mudado muito, continuava jovem, animada, falante, simpática, fazendo o seu "cooper" todas as manhãs, o que consistia em dar várias voltas pelo prédio a passos rápidos para "fazer exercícios." Ela sempre morou com um filho adulto, que dizia ter ficado meio perturbado depois que "levou um fora da noiva" quando era ainda bem novinho. Ele não aparentava ter mais do que um jeito meio fechado e só. Até o dia em que surtou. E eu fui agraciada com as primeiras reações do moço. Bateu na minha porta, eu abri, por que não tinha idéia do que estava se passando. Ele entrou, trancou a porta e ficou encarando a mim, minha filha e a empregada e dizendo que não ia sair dali por que queria "alugar o apt". Meu apartamento esteve um tempo para alugar mobiliado e talvez ele estivesse se lembrando disso. Na maior calma, conversei com ele, consegui abrir a porta e convence-lo a voltar para sua casa, pois meu apartamento não estava mais para alugar e agora eu estava morando nele. Só que a coisa não parou, ele foi bater na porta dos fundos, e mais agressivo, já berrava meu nome. Enfim. Já passou.
Mas, tive que ligar para a vizinha de 92 anos, dizer que o filho estava surtado e se ela sabia disso. Perguntar se tomava alguma medicação e ela responder que "ele parou, não quer mais tomar". E eu com a triste missão de alertá-la para chamar outros familliares, pedir ajuda. O filho abandonado pela noiva parecia ser esquizofrenico e sem a medicação poderia se tornar perigoso inclusive para a própria mãe. Ela entendeu perfeitamente bem o que eu estava dizendo, tanto que convocou seus outros filhos e acabaram por internar o moço de seus 50 anos talvez.
A paz voltou a reinar no prédio. Mas a vizinha mudou muito e rápido. Envelheceu uns 15 anos em semanas e passou a aparentar alguma coisa mais próxima de sua idade cronológica. E o que é pior, foi entrando de forma galopante em um estado senil, onde já não sabia mais quem era, onde morava. Chegou a bater na minha cozinha, pois não "conseguia entrar em casa", passar pela porta da frente e tentar abrir com a chave de casa, a porta do elevador como se aquela fosse a porta do seu apt. Passou a ter uma acompanhante permamente. E cheguei a pensar que seu fim estaria muito próximo. E talvez esteja mesmo. Seus olhos agora tem aquela expressão de quem ja está olhando para o outro lado, que já não está mais muito concreta por aqui, está virando anjo, etéreo. De toda maneira, o "fusivel" que se apagou no cérebro da vizinha, após a internação do filho que deve ter sido muito dolorosa para ela, e que além do mais a fez perder sua maior companhia- a deixou também mais alegre, mais espontânea, menos formal. Eu disse a ela, procurando uma palavra adequada: a senhora agora está mais... próxima. Não era bem isso que eu queria dizer e até agora não sei a palavra exata para exprimir. Mas ela gostou do "próxima". E espero que fique cada vez mais proxima mesmo. Para mim é um prazer recebe-la em minha casa, ainda mais agora nessa fase em que está mais engraçada, voltando a ser criança. Saúde dona vizinha. Feliz recomeço. E tomara que tenha gostado da carne assada. ( foto retirada do site Fotosearch, atraves de busca no Google)
Quem de nós tem a coragem de bater na casa do vizinho para provar a comidinha cheirosa que está sendo feita? Eu não tenho não. E nem a minha vizinha tinha há uns meses atrás. Quando me mudei para esse prédio a primeira vez, a vizinha tinha 82 anos e impressionava por sua aparencia jovem e sua disposição para fazer caminhadas e tudo o mais. Era uma senhora cheia de energia.
Há dois anos, quando voltei para cá, ela não havia mudado muito, continuava jovem, animada, falante, simpática, fazendo o seu "cooper" todas as manhãs, o que consistia em dar várias voltas pelo prédio a passos rápidos para "fazer exercícios." Ela sempre morou com um filho adulto, que dizia ter ficado meio perturbado depois que "levou um fora da noiva" quando era ainda bem novinho. Ele não aparentava ter mais do que um jeito meio fechado e só. Até o dia em que surtou. E eu fui agraciada com as primeiras reações do moço. Bateu na minha porta, eu abri, por que não tinha idéia do que estava se passando. Ele entrou, trancou a porta e ficou encarando a mim, minha filha e a empregada e dizendo que não ia sair dali por que queria "alugar o apt". Meu apartamento esteve um tempo para alugar mobiliado e talvez ele estivesse se lembrando disso. Na maior calma, conversei com ele, consegui abrir a porta e convence-lo a voltar para sua casa, pois meu apartamento não estava mais para alugar e agora eu estava morando nele. Só que a coisa não parou, ele foi bater na porta dos fundos, e mais agressivo, já berrava meu nome. Enfim. Já passou.
Mas, tive que ligar para a vizinha de 92 anos, dizer que o filho estava surtado e se ela sabia disso. Perguntar se tomava alguma medicação e ela responder que "ele parou, não quer mais tomar". E eu com a triste missão de alertá-la para chamar outros familliares, pedir ajuda. O filho abandonado pela noiva parecia ser esquizofrenico e sem a medicação poderia se tornar perigoso inclusive para a própria mãe. Ela entendeu perfeitamente bem o que eu estava dizendo, tanto que convocou seus outros filhos e acabaram por internar o moço de seus 50 anos talvez.
A paz voltou a reinar no prédio. Mas a vizinha mudou muito e rápido. Envelheceu uns 15 anos em semanas e passou a aparentar alguma coisa mais próxima de sua idade cronológica. E o que é pior, foi entrando de forma galopante em um estado senil, onde já não sabia mais quem era, onde morava. Chegou a bater na minha cozinha, pois não "conseguia entrar em casa", passar pela porta da frente e tentar abrir com a chave de casa, a porta do elevador como se aquela fosse a porta do seu apt. Passou a ter uma acompanhante permamente. E cheguei a pensar que seu fim estaria muito próximo. E talvez esteja mesmo. Seus olhos agora tem aquela expressão de quem ja está olhando para o outro lado, que já não está mais muito concreta por aqui, está virando anjo, etéreo. De toda maneira, o "fusivel" que se apagou no cérebro da vizinha, após a internação do filho que deve ter sido muito dolorosa para ela, e que além do mais a fez perder sua maior companhia- a deixou também mais alegre, mais espontânea, menos formal. Eu disse a ela, procurando uma palavra adequada: a senhora agora está mais... próxima. Não era bem isso que eu queria dizer e até agora não sei a palavra exata para exprimir. Mas ela gostou do "próxima". E espero que fique cada vez mais proxima mesmo. Para mim é um prazer recebe-la em minha casa, ainda mais agora nessa fase em que está mais engraçada, voltando a ser criança. Saúde dona vizinha. Feliz recomeço. E tomara que tenha gostado da carne assada. ( foto retirada do site Fotosearch, atraves de busca no Google)
Contando mais sobre essa história, como vc pediu; é um mangá, quadrinhos japoneses, bem diferente dos comics americanos. Homunculos é uma história bem interessante, que vai envolvendo a gente por justamente apesar de uma forma ficticia, tratar de uma questão interna nossa; 'como nos vemos?', 'como os outros nos veem', 'o que subjetivamente nos atrai'.
ResponderExcluirMuito interessante, muito mesmo e cada vez fica melhor. Já tá na nona edição, mas em lojas de HQ, internet e algumas livrarias é tranquilo achar.
www.teoria-do-playmobil.blogspot.com
Tenho bons vizinhos, inclusive um deles é o síndico, que trabalha pra burro, é linha dura e não muito amado por todos, mas me dou bem com todo mundo. Aqui tem um morador, que se separou da esposa e ele odeia o síndico. Um dia ele agrediu sua mulher e ela buscou ajuda em seu apartamento. Dai começou o ódio desse sujeito. Semana passada, riscaram todo o carro da esposa do síndico e pelas câmeras foi ele, mas não tem a prova do ato em si.
ResponderExcluirVocê é uma mulher muito generosa Cam, muito bonito seus atos, onde as pessoas ficam cada vez mais individualistas. Meu zelador é antigo e acabo sabendo de muitas pucuinhas de outros moradores contra seus vizinhos. Deve ser stress, sei lá.
A receita da piadina, é da Rita Lobo. vale a pena navegar em seu blog
http://panelinha.ig.com.br/site_novo/meuBlog/rita---02-2010-2
Boa semana Cam
bj
Já notou que a idade permite coisas diferentes as pessoas? É desculpa para tantas coisas. Gosto disso. Lembro de minha nona que ia mais devagar, era tão bom caminhar com ela. O nono aprendeu a entalhar depois do sessenta e eu aprendi com ele a não esperar pela idade.
ResponderExcluirSim, eles aproximam as coisas enquanto a maioria de nós distanciam. Adorei as sensações que seu post me proporcionou nesse fim de tarde.
Bacio