Ana Gertrudes foi uma menina sensível, as vezes assustada, pensativa, introspectiva. Filha de portugueses, numa família numerosa, com tantos irmãos e irmãs que ficava difícil expor suas idéias, impor suas vontades. Ela era uma das mais novinhas da casa. E passava horas sonhando, elocubrando, desvendando seus mistérios.
Jovenzinha ela conheceu em Petrópolis, Jorge, polaco, o amor de sua vida. Órfão de mãe, pai ocupado, menino em colégio interno, ele queria muito construir suas própria família, ter um lar, um ninho de amor. Ela também.
E que moça mais linda Ana Gertrudes tinha se tornado. A Anita. Todo mundo dizia que era o retrato de Ava Gardner. Ela sabia disso, mas não se valia da beleza, era só coração.
Casaram, viveram o “sonho americano”, tiveram a primeira filha, Martha, lá na terra do tio Sam, e mesmo de volta ao Brasil, continuaram falando Inglês entre eles, ele gostando de filmes de guerra e colecionando coisas da primasia americana na segunda grande guerra. Ela menos americana, teve a segunda filha, Valéria, a menina mais linda da cidade, e o caçula, George, um garoto sensível como a mãe e bonito na mistura de polonês louro, com a pele morena da Ava Gardner. E Ana Gertrudes Prista Milek criou a todos com um jeitinho bem brasileiro.
Os filhos cresceram e os pais continuaram com seu ideal de união e a família, sempre a família. Jorge cedo desistiu de ser médico para ter mais tempo para seu ninho. Foi vendedor, e que grande marketeiro ele era. Anita, uma talentosa pintora, retratista das melhores, preferia cuidar das crianças, primeiro os filhos e depois os netos, do que expor ao mercado todo o seu talento.
Logo depois de completar 60, Jorge se foi, com um câncer fulminante que ele procurou esconder da família até quase o ultimo minuto. Me lembro do dia em que ele morreu. Triste no hospital, por estar indo embora. Mas ficando até Anita se convencer que era a hora dele, e fazer uma prece pela boa morte, para que o espírito do marido, finalmente se desprendesse. Assim foi entendido por todos,na época. Jorge esperou a autorização de Anita.
Ela viveu mais 20 anos, viúva. Não que lhe faltassem pretendentes. Um cunhado viúvo há mais tempo, veio de Portugal pedir-lhe a mão. E claro que ela em cogitou. Da mesma forma, um bonitão, amigo da família. Jorge não estava presente, mas ela continuava casada.
Como disse Leonardo Boff, na missa de sétimo dia de Jorge, o casal era de almas gêmeas. Daquelas que passaram muito tempo se procurando. Como numa lenda grega que ele contou, e que ninguém nunca esqueceu.
Fiquei uma longa temporada sem ver Anita, apesar dela ser avó do meu filho mais velho. Nos visitou durante um tempo aqui em São Paulo, eu já no meu segundo casamento. Acolheu minha filhinha como sua neta. E depois adoeceu, e suas viagens ficaram mais esparsas.
Há uns dois anos atrás fomos almoçar juntos no Rio, Anita, meu filho e eu.
Já me surpreendeu ver que Ava Gardner tinha ficado muito velhinha, pelos anos que se passaram, mas também por problemas no coração, e também uma espécie de Parkinson. Fiquei triste de vê-la assim, convidei-a várias vezes para vir a São Paulo, mas ela já tinha medo de viajar.
Há uns três meses ela foi operada, um grande tumor no útero- há sete anos não ia ao ginecologista e ninguém se deu conta disso. Nem ela.
Pela biopsia, deu negativo. Mas a biopsia estava enganada. A metástase já tinha invadido seu corpo.
Ontem fui visitá-la no hospital, e Anita estava absolutamente lúcida. Consciente do que estava lhe acontecendo. A menina assustada deu lugar a uma mulher valente, lutadora, amiga, agregadora. Se despediu de todos, feliz de ter seus filhos , netos e bisnetos por perto. Me disse com um restinho de voz: estou muito cansada. Mas ainda conversou, ouviu interessada o que eu tinha para contar, na minha tentativa de criar um momento alegre e me acostumar com a sua partida.
Hoje as 6h da manhã ela se foi. Quem estava com ela, era seu filho, meu primeiro marido, George. Ele descreveu esse final como muito bonito, sereno. Disse que as quatro da manhã ela o chamou para ficar mais perto. Alguns momentos depois chamou por sua mãe- como todo ser humano, quando vai voltar as origens. Sua respiração foi se espaçando, até parar. Tranquila. Uma alma corajosa, crescida, de alguém que soube ser especial. A-DEUS ANITA. Foi bom ter conhecido e convivido com você. Agradeço a oportunidade de me despedir de você e de compartilhar com sua família, a serenidade de sua partida.
Jovenzinha ela conheceu em Petrópolis, Jorge, polaco, o amor de sua vida. Órfão de mãe, pai ocupado, menino em colégio interno, ele queria muito construir suas própria família, ter um lar, um ninho de amor. Ela também.
E que moça mais linda Ana Gertrudes tinha se tornado. A Anita. Todo mundo dizia que era o retrato de Ava Gardner. Ela sabia disso, mas não se valia da beleza, era só coração.
Casaram, viveram o “sonho americano”, tiveram a primeira filha, Martha, lá na terra do tio Sam, e mesmo de volta ao Brasil, continuaram falando Inglês entre eles, ele gostando de filmes de guerra e colecionando coisas da primasia americana na segunda grande guerra. Ela menos americana, teve a segunda filha, Valéria, a menina mais linda da cidade, e o caçula, George, um garoto sensível como a mãe e bonito na mistura de polonês louro, com a pele morena da Ava Gardner. E Ana Gertrudes Prista Milek criou a todos com um jeitinho bem brasileiro.
Os filhos cresceram e os pais continuaram com seu ideal de união e a família, sempre a família. Jorge cedo desistiu de ser médico para ter mais tempo para seu ninho. Foi vendedor, e que grande marketeiro ele era. Anita, uma talentosa pintora, retratista das melhores, preferia cuidar das crianças, primeiro os filhos e depois os netos, do que expor ao mercado todo o seu talento.
Logo depois de completar 60, Jorge se foi, com um câncer fulminante que ele procurou esconder da família até quase o ultimo minuto. Me lembro do dia em que ele morreu. Triste no hospital, por estar indo embora. Mas ficando até Anita se convencer que era a hora dele, e fazer uma prece pela boa morte, para que o espírito do marido, finalmente se desprendesse. Assim foi entendido por todos,na época. Jorge esperou a autorização de Anita.
Ela viveu mais 20 anos, viúva. Não que lhe faltassem pretendentes. Um cunhado viúvo há mais tempo, veio de Portugal pedir-lhe a mão. E claro que ela em cogitou. Da mesma forma, um bonitão, amigo da família. Jorge não estava presente, mas ela continuava casada.
Como disse Leonardo Boff, na missa de sétimo dia de Jorge, o casal era de almas gêmeas. Daquelas que passaram muito tempo se procurando. Como numa lenda grega que ele contou, e que ninguém nunca esqueceu.
Fiquei uma longa temporada sem ver Anita, apesar dela ser avó do meu filho mais velho. Nos visitou durante um tempo aqui em São Paulo, eu já no meu segundo casamento. Acolheu minha filhinha como sua neta. E depois adoeceu, e suas viagens ficaram mais esparsas.
Há uns dois anos atrás fomos almoçar juntos no Rio, Anita, meu filho e eu.
Já me surpreendeu ver que Ava Gardner tinha ficado muito velhinha, pelos anos que se passaram, mas também por problemas no coração, e também uma espécie de Parkinson. Fiquei triste de vê-la assim, convidei-a várias vezes para vir a São Paulo, mas ela já tinha medo de viajar.
Há uns três meses ela foi operada, um grande tumor no útero- há sete anos não ia ao ginecologista e ninguém se deu conta disso. Nem ela.
Pela biopsia, deu negativo. Mas a biopsia estava enganada. A metástase já tinha invadido seu corpo.
Ontem fui visitá-la no hospital, e Anita estava absolutamente lúcida. Consciente do que estava lhe acontecendo. A menina assustada deu lugar a uma mulher valente, lutadora, amiga, agregadora. Se despediu de todos, feliz de ter seus filhos , netos e bisnetos por perto. Me disse com um restinho de voz: estou muito cansada. Mas ainda conversou, ouviu interessada o que eu tinha para contar, na minha tentativa de criar um momento alegre e me acostumar com a sua partida.
Hoje as 6h da manhã ela se foi. Quem estava com ela, era seu filho, meu primeiro marido, George. Ele descreveu esse final como muito bonito, sereno. Disse que as quatro da manhã ela o chamou para ficar mais perto. Alguns momentos depois chamou por sua mãe- como todo ser humano, quando vai voltar as origens. Sua respiração foi se espaçando, até parar. Tranquila. Uma alma corajosa, crescida, de alguém que soube ser especial. A-DEUS ANITA. Foi bom ter conhecido e convivido com você. Agradeço a oportunidade de me despedir de você e de compartilhar com sua família, a serenidade de sua partida.
Que coisa mais linda, e olha tenho certeza que Anita agora está muito feliz, nos braços do Pai, ao lado do seu amado, da sua mãe...
ResponderExcluirBeijos amiga, e olha comprei o livro que vc receomendou, viu?
Oi Camille!
ResponderExcluirDoce homenagem a uma lutadora através de sensível e tocante texto.
Ela está em paz, com certeza.
beijos minha querida, fica bem.
Anita minha vizinha de cidade?
ResponderExcluirPena não tê-la conhecido.
Lindo depoimento o seu.
Ava foi-se como uma estrela mesmo mas não do cinema. Da vida.
Oi Camille.
ResponderExcluirBelo, comovido e meigo requiém para Dona Anita. É um privilégio poder partir assim desta forma serena, depois de uma vida vivida com amor e carinho. Que ela descanse em paz.
Um beijo pra você.
Cam, o seu texto foi escrito com uma sensibilidade que o momento pediu. Linda homenagem a avó do seu filho.Bjs!!
ResponderExcluirAmiga querida, estou melhor da gripe, obrigada. E re-publiquei o post que explica minha fascinação por sofás :))).
ResponderExcluirDepois volto com mais calma, tá?
Um cheiro.
So Beautiful !!!!! I Love My Grandma so Much!!!! I'm going to miss Her...
ResponderExcluirBonito e triste, chorei pra variar aqui. :(
ResponderExcluirbjs Laura
obrigada qrda, hj fiz post aradecendo vcs lá.
Antigamente meu blog nao tinha lugar para responder. De vez em quando acho uma porção de mensagens sem resposta e acabo me emocionando tb. Não sei es voce recebera essa mensagem. Hoje é 9 de março de 2016.
ExcluirCamille minha querida:
ResponderExcluirQue bonita despedida você fez para ela.
Uma morte serena, como acontece com pessoas de bom coração, de almka pura.
Essas não morrem, elas vão ao encontro do Pai.
Que Anita encontre a paz.
Um beijo meu bem.
PS: Subo no sábado.
Anita e você contrariando a lenda que sogra e nora não se dão bem. Uma linda homenagem para alguém que soube aproveitar a vida e que deixou saudades.
ResponderExcluirAmoreco, mudei a fonte do seu texto, nas configurações do blogue, já que estava usando o editor de texto para tal. Tudo bem?
Beijus,
Camille
ResponderExcluirQuero primeiro que tudo agradecer o seu texto sobre a minha querida Tia Anita que neste momento se encontra em Paz, com o Tio Jorge, a minha mãe, Mª José, com a avó Nininha, avô Bernardino e todas as outras irmãs e irmãos já falecidos.
A minha tia Anita era das pessoas mais bonitas e bondosas que conheci. Não me posso esquecer o acolhimento que nos deu, a mim e à minha filha, quando estivemos no Brasil, com muito amor e carinho.
É sempre muito difícil para os filhos o desaparecimento da nossa mãe e eu sei, pois perdi a minha, há dois anos e ainda penso nela todos os dias. Precisamos de ter muita coragem. Elas também foram um exemplo de coragem para nós.
Estou solidária na dor com o George, com a Marta e Valéria, com o Zuza e toda a restante família.
Tenho dois quadros lindíssimos da Tia Anita na minha sala, fotografias antigas das irmãs abraçadas e muitas recordações dos bons momentos que passei com a Tia em Portugal.
Que a nossa memória não se apague para podermos continuar no nosso caminho em frente.
Pedia-lhe um favor, Camille, de fazer chegar esta mensagem ao George.
Bem-haja!
Prima Leninha
Prezada Leninha,
ResponderExcluirMuito grata por sua mensagem. Ja a repassei para o George e toda a sua familia. Não encontrei aqui seu endereço de e-mail para que possam se comunicar com você. Deixou então o meu, caso voce queira entrar em contato e deixar seu endereço de e-mail para a familia Milek:
cameliadepedra_1@yahoo.com.br
Um abraço afetuoso,
Camille
Um beijo e um abraço, querida...
ResponderExcluirConheci Anita há alguns anos , ela e o Jorge, eram apaixonados, e nos davam um exemplo de família bem constituida. Anita, artista sensível não construiu uma carreira, mas nos deixou pinturas e retratos excepcionais.
ResponderExcluirNa última vez que estive no Rio, há dois meses, liguei para ela, e conversamos muito, até combinei que iria vistá-la na proxima vez. Irei sim, entrarei na primeira Igreja e chorarei e rezarei por ela. Não vou dar adeus, porque equanto nos lembrarmos de Anita, ela permanecerá.
Sonia Sales
Querida sobrinha,
ResponderExcluirComo tudo que leio em seu Blog, muito lindo e comovente o que escreveu sobre D.Anita.
Como vc a descreveu com carinho e beleza...
Não ví ainda suas telas, mas estou curiosa em ve-las.Não faltará oportunidade.
Fico feliz em ter estado com vc na despedida dela. E que Deus a receba de braços abertos. bjos
Quanta sensibilidade, só você conseguiria contar tão bem essa história.
ResponderExcluirLembro de uma outra linda história que voce escreveu sobre seu avós.
E, vendo no meu email a carta de 1988,vejo como você é especial e como consegue com as palavras transmitir toda a sua emoção.
Voce escreve o que as pessoas gostariam de dizer e principalmente ouvir.
Eliana
Camille , sou Ana Maria Elsborg - afilhada de Anita Milek e de George Milek , gostaria de saber como posso entrar entrar em contato com ele .Você pode me ajudar ? Meu email para contato é anamariaelsborg@yahoo.com.br . Obrigada desde já , abraços Ana
ResponderExcluirOla Ana Maria nao sei quanto tempo faz que voce escreveu essa mensagem pois nao tem data aqui, somente a hora do seu comentario. Vou ver se consigo entrar em contato com o George para que ele procure voce. Um abraço. Cam
ExcluirSo para voce saber hoje é 9 de marco de 2016.
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