26 julho 2012

Meninas crescem e descartam seus bichos de pelúcia.

       Arrumação de quarto virou moda. Agora as meninas não se contentam com roupas e brinquedos. Na verdade nem ligam muito. O que vejo Anna Luiza se interessar, e as amigas também., é na decoração dos quartos.
    
   Se deixar por conta vai Justin Bieber , Selena Gomes, Mylus Syrus até no teto. Não tem espelho que sobre, nem mural que seja suficiente. Mas aí vem as mães -chatas, nós: "menos, menos"... E tentam melhorar a situação. Semana passada  a mãe de uma amiguinha  me convidou para ir a casa dela e ver como ficou" show" o quarto da filha. Móvel novo, um espelhão e todos os sonhos de consumo da pequena -crescendo rápido- feito a minha.  Eu, heim? Tem explicação: a pimpolha de 11 ganhou um irmãozinho-fofo- ano passado. Vai ver passou um tempo enciumada e agora foi recompensada com um quarto novo para curtir. Mas, bem mais provavel, é que as nossas meninas sejam muito mimadas. Meu Deus. O que diria Karl Marx diante de tanta frescura? Ah Tio Karl, não é bem assim, é só uma mãozinha de tinta aqui, uma almofadinha ali.
  
   Não!!!!!!!!! Responderia Karl, essa meninas ao menos arrumam suas camas? Guardam suas roupas? Fazem algum trabalho no lar, tipo: lavam, passam, arrumam? Silêncio. Suspiro. Mais silencio. Tudo está tão diferente de quando eu  mesma era pequena.
  
   Por que fui uma menina "demarcação das terras indígenas"? Ninguém na minha família me ensinou a ser assim. Mas era própria defensora das minorias, étnicas ou não. Sempre observando o mundo à minha maneira.
   
  Meu filho, J.B- ui!!! Não posso nem colocar o nome completo, já levei bronca por causa de fotos em FB...tinha trocentos heróis. Um deles, Airton Senna. Mas jamais pediu para decorar o quarto de nenhum jeito especial. Meninas são diferentes, eu sei. E meninas nesse momento do mundo, onde o capitalismo está chicoteando os que menos tem, com suas qunquilharias tão efêmeras quanto coloridas e reluzentes - Aquela lâmpada com parafina que forma bolas coloridas serve para o que mesmo,  heim?  São meninas que se interessam também por decoração aos 11 anos de idade.
   
  Óqueeeeeiii. Vamos com calma, que a mãe aqui não ganhou na loteria. E nem acha natural, mudar a cor do quarto de acordo com as estações do ano.  Então,  resolvi impor umas condições para que a nova reforminha tenha algum sentido de arrumação mesmo,  e não de mais acumulação: vamos descer essa bicharada das estantes! E nem pensar em comprar substitutos. Você já está grande mocinha. E se quer um quarto de adulto, vai ser sem esses animais empoeirados, de estimação.
No lugar deles, ficarão caixas para guardar coisas úteis ( como esmaltes, tesouras," stickers"). Eu sei, eu sei Tio Engels. Quase uma aberração? Ops, não exagera não.
  
   Recebidas as ordens "severíssimas", ontem a noite minha filha aparece com os bichinhos descartados: dois ursinhos, um cangurú que foi o rei da casa por alguns anos, por que trazia o filhote na barriga. Alguns sei lá o que.  Um casal de Stitch e Angel, esses dois, que foram  amigos inseparáveis, com vários "clones" inclusive. Aimeudeus. Vou ter um troço. Minha fada sininho,  já já faz 12 anos : a-do-les-cen-te.

Isso me lembra a Wendy. Ao final, quando Peter volta para a "Terra do Nunca", ela dá um adeus prolongado e significativo: ano que vem, esse lugar não  fará mais sentido para mim. Talvez ocupe apenas uma partezinha do meu coração, da minha recordação. 

  
Tem certas coisas que filho não percebe: enquanto eles se acham os autores dos capítulos-auge-do-romance, não sabem que acompanhamos cada página dessa história, nos mínimos detalhes, desde o comecinho. E que além do produto- muito bem acabado- que se tornaram, ja foram bebezinhos, menininhos entrando na escola, saindo da alfabetização, perdendo o primeiro dentinho, usando aparelho, brigando com alguma amiga ou amigo pela primeira vez e para "todo o sempre", fazendo as pazes e convidando para o final de semana,  descobrindo o amor, duvidando dele E nesse momento,   redecorando o quarto para  ser mais ainda, um quarto de moça( palavra que elas não pronunciam, mas se entendem nela). Separando seus bichinhos de pelúcia.

E eu aqui, com mais uma leva, que representa mais uma etapa de crescimento e amadurecimento necessários. O abrir mão sem remorsos, daquilo que ficou para trás. Perfeito. Nada de apegos. É a vida que passa feliz para uma nova etapa. Um caráter se delineando e quase formado.

O que faço eu, saudosa, apiedada diante dessa caixa de bichinhos? Vou chamar a sociedade protetora dos animais de pelúcia? Não, Tio Marx e Tio Engels. Vou aproveitar o momento, ver se tem roupas para dar e fazer uma leva. Ah isso não passa de caridade fajuta, nessa injusta estratificação social?  Sei disso. Já volto para minha pesquisa: políticas públicas, voltada para saúde mental. Melhorou? Então está combinado.

4 comentários:

  1. Que lindo... Só suspiros... rs

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  2. Nem sei se é lindo, mas é do jeito que esse mundo capitalista encara. Vamos educando e procurando tirar certas frescuras...
    BJOS

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  3. Camille cheguei aqui através do blog da Luma e estou adorando! Passei por alguns posts e voltarei a ler com muita calma.
    Parabéns e sucesso pelo seu livro.
    Ah! Eu já ganhei na loteria. É, acho que dava pra comprar um bichinho de pelúcia ( R$14,16 ), mas ganhei!
    Beijo

    http://ladodeforadocoracao.blogspot.com.br

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    1. Ola Ana Paula, somente hoje vi seu comentario. Não tenho um visualizador de novos comentarios...Um grande beijo e parabens pela loteria!!Deve dar mesmo uma euforia e uma vontade de compartilhar, nem que seja os tais 14 "real". É sorte da boa.
      Vou visitar teu blog. Bjos

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