07 dezembro 2011

TDAH ( transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ) ou todas as respostas abaixo?


"Desconhecido por muitos anos, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é considerado, hoje, um diagnóstico fácil para atitudes antes vistas como normais na infância."
Gente estou com pressa, e esse é um dos assuntos para se falar com todo o cuidadinho do mundo. Ainda assim, vou fazer aqui uma pequena reflexão.

No tempo da faculdade, tive um contato grande com crianças vindas de famílias de baxissima renda, com dificuldades escolares. Chegavam à clinica da universidade, na sua maioria com uma hipótese prévia em prontuário escolar, de TDAH( transtorno de déficit de atenção e hiperatividade).

Hoje lendo uma reportagem do UOL, sobre mais uma polêmica que envolve esse assunto, dessa vez no programa da Ana Maria Braga, em que alguém disse que "isso não existe" e a ABP enviou uma carta de repúdio dizendo que o problema existe desde o seculo XVIII. E que se não existisse e "se o TDAH fosse apenas “um jeito diferente de ser” e não um transtorno mental, por que os portadores, segundo pesquisas científicas, têm maior taxa de abandono escolar, reprovação, desemprego, divórcio e acidentes automobilísticos?"(sic).

Assim, quero ressaltar uma coisa interessante: a matéria não toma partido , apenas descreve as partes do conflito. Mas, se a gente pegar uma simples frase e destacá-la aleatóriamente do conteúdo total do texto, como a frase que coloquei em vermelho lá em cima, o que você vai entender? Que hoje TDAH é um "diagnóstico fácil". Por que estamos tirando uma única frase de um contexto enorme de informação. Que erro grave se eu tivesse puxado a frase sem dizer que ela tem todo um resto de texto que a explica.

Então agora vamos pegar as crianças que vinham "carimbadas" com "TDAH", muitas delas moradoras em favelas, filhas de pais sem nenhuma instrução escolar- e vamos retirá-la também do contexto: é simplesmente uma criança que não presta atenção na aula, ou está "voando", "sonhando" ou "zoando" com alguém. Ela não entende o conteúdo dado em sala de aula, não aprende, não passa de ano. E por fim abandona a escola.

Ora, ora, ora, será que o Brasil tem TDAH? Por que nos idos dos anos 60, as crianças filhas da população carente do país( a que habita a maior parte do nosso território, ou seja a maioria) já apresentavam os mesmos sintomas. E foi daí que Paulo Freire teve uma luz, no dia em que seu filho pequeno e não alfabetizado leu a palavra "Nescau" em um cartaz.

Nossa , meu filho reconheceu a palavra Nescau, por que ele bebe Nescau todo dia. Isso faz parte do contexto dele. E assim entendeu que, para uma criança aprender e fixar a aprendizagem, ou minimamente se interessar pelo que está sendo ensinado é preciso contextualizar o ensino.

E nós ainda não temos essa realidade no Brasil.

Imagina esse "confronto" com o ensino na sua pele: você adulto é obrigado a aprender grego, sem ter familia grega, sem jamais ter pisado na Grécia, sem nem saber onde fica, sem que isso vá fazer a diferença no seu cotidiano e sem que nenhuma palavra seja minimamente traduzida para você desde o ínicio. Vai dar para ouvir e se interessar pela palestra sobre mitologia, no idioma grego, na semana que vem? Claro que não. Por mais vontade que você tenha de aprender mesmo que jamais possa ir a Grécia, por mais curiosidade de conhecer e por mais esforço que faça, vai chegar uma hora em que você vai querer voar pela janela e sair correndo dali.

Então "sinto muito" mas se você é uma pessoa tão dispersiva assim, provavelmente você tem um transtorno que se chama TDAH.

É mais ou menos assim que funciona para a criança que é submetida a uma sala de aula, com um ensino que por mais que tente melhorar aqui e ali, é uniformizado como condição. É a "rede de ensino". Não é "customizado" para falar marketelês capitalista. Não há uma genuína consciência e uma ação direcionada, como gostaria Paulo Freire, de que o ensino e aí a aprendizagem, fale ao coração e ao pensamento, de acordo com a realidade de cada grupo.

E por aqui ficamos, por que este é um blog e não uma revista científica. Esse ano como em todos os outros, centenas de crianças vão deixar as escolas. Não por que exista uma desigualdade social sem limites e por que o ensino esteja desconectado da realidade da maioria da população, que nada. Mas por que muitas, mas incrivelmente, muiiiiiiiiiiiitas crianças tem transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Estou carregando nas tintas para chamar a atenção do "quadro negro". O Brasil não precisa mudar. O ensino não carece de questionamento. Está tudo certo. Os "errados" vão tomar um remedinho e ai depois a gente vê o que faz. Os "portadores" se não desistirem serão colocados em classes para "especiais" e ponto final. Percebe a ironia?

Se esse assunto mobilizou você procure saber mais. É um assunto de Saúde, que envolve o nosso Ensino e as nossas Crianças. Também os nossos Adultos. Inclusive, como diz a resportagem, aqueles que se tornam marginais. A moça ali na esquina sofreu um assalto? Ah pois é, vai ver é culpa do TDAH...

11 comentários:

  1. Camille
    to te aplaudindo.
    Eu sou prova de que este problema existe, não é fricote, nem frescura.
    Tenho um problema sério de ansiedade e desatenção e meu filho também.
    Vivo cheia de bilhetes do professor dizendo que ele não aprende, que não consegue acompanhar a turma.
    Meu coração enche de angustia, sabia.
    Queria achar um "remédio" para isso (mas acessível) porque os remédios que pretendem ou prometem ajudar as vezes não ajudam nada.
    Infelizmente a vida é cruel neste aspecto, porque sobre as crianças carentes, além de todos os problemas que enfrentam ainda temos que ouvir os outros as chamarem de burras, estúpidas e lerdas.
    Excelente artigo.
    Parabéns.
    vou divulgar agora lá no Sonhareser.
    beijos.

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    1. Obrigada Liliane. É provavel que seu filho nem voce tenham TDAH. ´Desatenção a gente tem mesmo. Mas sem ser doença.Existem formas de aprender a estudar, concentrar para ter mais atenção. O que acontece com o diagnostico de TDAH é que vulgarizou. É o diagnostico facil e é mole dizer que uma criança que nao tem capacidade de acompanhar os estudos por que vive na miseria, em situação de risto, tem TDAH. É mais facil do que ter uma critica da realidade, E de tratar o ensino como prioridade....Bjos e tudo de bom para vocês.

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  2. eu conheci uma criança uma vez com esse problema. e conheci várias outras q os pais diziam q tinham diagnosticado com esse problema e não se pareciam nem um pouco com o q eu conheci. acho q esses nomes são importantes para conhecermos melhor os problemas, mas q hj tentam rotular tudo e exagerar, isso sim. há crianças q faltam disciplina e ficam exageradamente agitadas, mas não tem o problema. como outras doenças q diagnosticam com facilidade e rapidez demais, para medicar rápido, em vez de uma análise mais profunda. beijos, pedrita

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    1. Pedrita, falta tudo:disciplina, respeito com a criança e seu tempo de aprendizagem, salas barulhentas, falta comida, atenção direcionada. Faltam escolas e vontade de transmitir a educação de base para todos. Por que isso é realmente transformador. É isso que pode mudar tudo. É chance desse pais ser mais justo e não pagar apenas a "merenda escolar". Dar escola mesmo. TDAH é o diagnostico facil dos dias atuais. Bjoss

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  3. Camille, menina....

    Antes eu digo que sou uma pessoa normal...
    Mas dias desses eu ouvi de uma pessoa que sou hiperativa. Imagina, eu??? Como assim?
    E voltando lá atrás, tem sentido, mas nunca me prejudicou em nada. Eu aprendi a conviver com isso - minha cabeça pensa muito mais rápido que minhas ações. E se o tema se alonga um pouco, já vira tédio. Será??
    Bem, mas adorei seu post, muito interessante, e continuo com a mesma opinião de que "alguns" falam o que lhe convém, sentados em suas cadeiras macias e salas refrigeradas. Mas não sabem nada da realidade. Nada!!!

    Beijossss

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    1. Pode ser Clara, que voce seja simplesmente genial.E não com algum transtorno de hiperatividade. Aposto seguramente na primeira opção. Bjoss

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  4. Nossa amiga e isso era porque vc estava com pressa e escreveu esse texto maravilhoso.

    Um grde beijo

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    1. Obrigada querida. Vindo de uma pedagoga, aiai. Que bom.
      Bjosss

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  5. Camille querida,

    Texto excelente. TDAH existe e é um problema sério! Lembro-me da dificuldade de uma família amiga com um dos seus filhos. Como parte do tratamento, a família ( o garoto, pai, mãe, irmão)fazia terapia. O garoto era sempre convidado a se transferir de escola... Um grande transtorno. Mas generalizar como portador de TDAH a maioria da população brasileira porque a escola não sabe como contextualizar o ensino, é querer lavar as mãos para a própria incompetência. Um assunto merecedor de grande reflexão no país.
    Girassóis nos seus dias. Beijos.

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    1. OI Ceilina, voce sumiu. Mas esta aqui num comentario que nao vi antes. TDAH é um problema serio quando dignosticado errado em alguem que nao tenha. E é muito comum no Brasi. Se a criança faz bagunça e não presta atenção, já carimbam. Quando ela pode simplesmente não entender o "grego" da forma que o nosso ensino se comporta. Já as pessoas que tem, de fato, existem tratamentos eficazes.Bjosss para voce e saudades de seus comentarios tão bacanas.

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  6. Ale, agora que estou vendo esses comentários. (30/10/2014). Pois é , aqui no Brasil descontextualizam uma criança de seu meio sem cultura, sem comida, familia sem estudo, criança sem interesse por "grego",por que o ensino fala "grego"com elas e carimbam com o TDAH. O que significa que a criança muitas vezes, com o diangnostico pra la de errado, vai tomar um remedio que não tinha que tomar, vai viciar o organismo e nada vai ser resolvido. Por isso que penso, toda a revoluçao que se queira nesse pais tem que começar pela educação. Nos campos , na periferia. Mas educação de base. Alfabetização de Paulo Freira para todos. Tinha que estar incluido com no Bolsa Familia. Voce ganha a bolsa, mas coma condição de botar teus filhos na escola. Que escola? Aquela que vai ser reeducada na lingua de cada local, em respeito a nossa criançada. Bjoss querido. Voce entendeu o que eu quis dizer.

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