21 julho 2012

Não Tenhas Medo - Filme de Armendariz

 Depois de assistir com minha filha, "15anos e Meio" comédia francesa  dublada, com o sempre maravilhoso Daniel Auteuil: um bioquímico workoolic que vive em Washington, vai a Paris passar 3 meses com sua filha, que quase nunca vê. E podemos imaginar o previsvel final feliz que acontece- ele decide ficar para sempre na França e ver a flha crescer. Anna Luiza vai dormir feliz . E cá estou eu de coração leve.


Mas tenho montes de filmes ainda não vistos e por que não mais um? Pego "Não Tenhas Medo" do cineasta basco Montxo Armendariz, também diretor de  Secretos del Corazon, história de um menininho que vê os mortos. Sabia que não deveria ser alegre. E com algumas chamadas como "um filme incomum e longe do convencional", me pareceu mais um de realismo fantástico, terror, ou como se queira chamar esse gênero "fantasma".

 Não era nada disso não. Outra relação de pai e filha. Mas bem diferente da de Auteil : uma família espanhola, mulher, marido e filhinha de uns 6 anos, parece feliz. A mãe dá boa noite e beijo na hora de dormir. Algumas tomadas do quarto mal iluminado parecem suspense. O pai entra, faz cosquinhas na filha, dá mais  beijo, apaga a luz e  vai dormir. Puxa, não era o que pensei.

O pai ( o excelente ator catalão Llluiz Homar- de "Abraços Partidos" e "Olhos de Julia") leva e busca a filha na escola todos os dias, as vezes um amiguinha vai junto. Ele leva a filha para patinar no gelo. Parece tão presente, bom, amigo. Chega em casa, brinca, faz cosquinhas, a menina ri. De repente a vemos virada de bruços no sofá e ele diz- não tenhas medo. Era o que pensei.
                                          bem a esquerda o diretor  Armendariz aparece na cena

A menina  começa a ter um comportamenteo preocupante  na escola, nos desenhos, na dispersão, nas notas. Na relação com as amiguinhas. Pega seus bonecos e representa, como tantas crianças tentam representar suas amarguras:no brincar. "Chupa, chupa, chupa como um pirulito", o boneco de pano homem diz à boneca mulher.  A mãe escuta e pergunta: quem fala assim? E a menina responde: "o papai." A partir daí a neurose se expande. A mãe nada quer saber sobre isso e chama a menina de mentirosa.

O tempo passa. Vemos uma mocinha vivendo com seu pai.  Mulher e marido se separaram. Mulher vai viver com outro homem, reconstrói sua vida. E deixa sua destroçada filha com o pai molestador.
A mocinha é uma excelente violoncelista, além de ajudar no consultório de dentista do pai. Aparenemte eles vivem bem. A filha aprendeu a dissociar mente e corpo no momento em que o pai a sevicia.

Mas nada é assim dicotomizado, separado . E a mente machucada, daquele corpo doído,  tudo sabe, mesmo que tente esconder e se repartir. A moça então,  se joga de um carro andando para a morte. Acorda em um hospital psiquiatrico . E poderia fazer uma carreira de doente mental, destituída de sua identidade de sujeito, caso uma terapeuta não tivesse pegado o caso, ajudando-a  a sair do abismo em que se encontrava.

O filme termina com o pai impune. Mesmo assim termina bem. A moça consegue superar seu drama, partilhando sua experiência em um grupo de pessoas que também sofreram abuso de adultos que confiavam na infância.  Consegue recompor seus  pedaços. Talvez seja esse o ponto que torna o filme "incomum e longe do convencional".

Casos de abuso são comuníssimos.  É verdade que, existem alguns tipos de sofrimento mental em que o paciente fantasia que sofreu um asséidio sexual ou mesmo um ato consumado na infância. Mas o fato em si, do assédio moral ou físico , do abuso com crianças é uma realidade cruel. A terapia de família aponta para o fato de que "as famílias sabem". Sabem o que? Qualquer coisa que se passa com elas.

Dificil esconder alguma coisa de quem convive todos os dias no mesmo ambiente. Os supostos "segredos" saem  pelos poros, quase. Portanto, as famílias se omitem. Muitas vezes, a mulher sabe que seu marido ataca filhos e filhas. Em nome da autoridade familiar, exerce sua loucura sobre sua cria. A mulher é conivente por vergonha, por medo, por denegação. Não quer enxergar. E pessoas crescem assim, abusadas na calada da noite. E durante o dia, como se nada de estranho houvesse acontecido.

A violência sistemática, e o fingir cotidiano de que nada esta acontecendo, não é apenas a banalização da experiência. É uma tentativa de tira-la da prateleira de problemas visíveis  e resolvíveis.. É colocar a sujeira debaixo de um tapete, onde existe um buraco fundo que tudo parece esconder.  Até o dia em que o abusado resolve correr o risco de descer lá embaixo e trazer para a superfície novamente, aquilo que é preciso ser pontuado,  apontado, visto,  e finalmente expurgado, se restar essa capacidade.

E em geral há essa capacidade.  É possível superar os próprios dramas, por mais vergonhosos, asustadores, e as vezes cheios de culpa,  que pareçam. Somos todos humanos, cheios de falhas, sofrimentos,  cheios de dores.  Todo mundo  tem direito a vida plena. Portanto, se algum dia algo que você julga terrível vier a tona, procure ajuda e aproveite para se livrar desse peso.  Liberte-se de suas amarras. Existem bons profissionais para auxiliar nesse processo. Boa sorte. e não tenha medo, neesse caso, de verdade. Confie na ajuda.

4 comentários:

  1. eu tb adoro o daniel auteuil. eu vejo filmes na tv a cabo. agora mesmo estou olhando na grade de programação dos canais de filmes pra ver qual vou ver hj. beijos, pedrita

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    1. Ele é tudo de bom, e raramente faz um filme baixo astral. Ja assisti alguns tipo "Pintar ou Fazer Amor", e outros. Mas em geral, faz comedia. Bjos

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  2. Ca, ando super desatualizada de filmes você acredita. O q eu costumo ver são aqueles q passam na tv a cabo e mesmo assim não assisto sempre.
    Big Beijos

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  3. Nao sei se esse passaria na tv. Super forte o filme.
    Bjao Pedrita!

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