21 fevereiro 2010

Um Olhar do Paraíso. Estão chamando de fábula e essa parece ser uma boa denominação.


Acabo de assistir esse filme. A atriz que interpreta Susie, a menina brutalmente assassinada, é tão linda que parece mesmo um anjo no céu. Do jeito que nosso imaginário aprendeu a imaginar: cabelos louros, pele rosada, olhos azuis e sorriso pra lá de cândido.

Assisti, mas nada consegui extrair, além da constatação de sempre: o mundo é desse jeito, sórdido. Mesclado por beleza e inocencia. Mas definitivamente, finito, passageiro, ilusório, sofrido.

A menina tem um olhar sobre esse mundo, mas certamente, o lugar que ocupa, não é de alguém no paraíso. Suas angústias, frustrações ressentimentos são a narrativa do filme. Enquanto a paisagem é placida, "paraísada." Considero esse tipo de filme como metáfora. Ou materialização daquilo que a gente pensa que possa ser o que não sabemos como é e nem se é.

Gosto daquela explicação do Ziraldo em um livro para sua neta, quando sua esposa morreu: Vilma fechou os olhos e dormiu para sempre. Nem sabe. Não pensa mais , não sonha mais. Alguma coisa assim, não exatamente com essas palavras. É menos cansativo para quem morre e para quem fica. Parece mais com aquele "descanse em paz".

E não estou entendendo bem, por que filmes como esse do "Olhar do Paraíso", e livros como "A Cabana", estão surgindo. Comecei mas não consegui ler a Cabana nem até a metade, longe disso. Pode ser bonita a explicação de Deus que vem mais adiante e não cheguei a ler. Mas o antes é inteiramente morbido e triste demais. Meu coraçãozinho não está para essas coisas. E fico pensando se, o mundo está tão endurecido, tão enlameado com suas fantasias idiotas, que é necessário o surgimento desse tipo de enredo mais sublime para dizer mais uma vez, de outra forma que seja: hei manés, acordem. Ocês são perecíveis. E de um jeito ou de outro, desaparecerão.

Com tantos filmes de catástrofes, ou de enlatados sobre criminalistica, onde o morrer é básico, o cadaver já está congelado e ninguém prantea o morto, por que o lance é descobrir quem matou. Parece que há mesmo uma anestesia. Sem contar com o dia-a-dia, que requer uma xilocaina,um tilex que seja, nos sentidos para a humanidade suportar. Deve ser por ai.

Tudo isso contudo é bem o oposto de uma boa análise. Digo, a terapia psicanalítica. Que deixa o sujeito mais conscio de seu tempo limitado, de sua necessidade de fazer alguma coisa já, de deixar uma obra caso queira contribuir de alguma forma com um mundo melhor, ou minimamente deixar a sua marca. Deixa você mais sensível durante o processo e depois. Mas realmente, melhor leitor de si e do mundo, num para sempre, sempre renovado e renovador. Com com dor ou sem dor.Com ajuda externa na retomada cada vez, ou com sua propria sabedoria adquirida.

Meu tio Luis, grande cara, diz, que o paraíso e o inferno, é tudo aqui mesmo. Certamente. Com consciencia de si é preciso menos xilocaina, menos filmes sobre o olhar do paraíso e nasce daí um pouco mais de respeito por si e pelo próximo. Que pode ser o vizinho, a mãe, quem for. Parece bom? É uma opção. Feliz Ano Novo pra nós, mais uma vez.

E de toda maneira agradeço aos cineastas. Mesmo com enredos marromenis, eu adoro cinema.E utilizo da sétima arte como balsamo para os dias complicados que tenho passado. E que acredito, estão passando. Então, luz, câmera e ação por que o mundo está precisando de mãos a obra. Boa semana. ( foto retirada de site oficial "The Lovely Bones")

15 comentários:

  1. Cam, que texto! Ufa!

    Duas coisas: Li o livro A Cabana e até chegar o momento em que a tragédia aocntece naquela família meu coracao estava na boca de tanta angústia.
    Acho que passaram a escrever e a fazer filmes assim porque infelizmente o índice de tal fatalidade andou aumentando em todo o mundo.
    Nao zombo de Deus, mas o livro trouxe uma resposta para as pessoas e que eu já tinha pensado nela. A tragédia em nossas vidas está ai, batendo à nossa porta, porque foi como vc escreveu: "nao se chora mais pelo morto e sim quer saber quem foi o assassino." Só que o assassino nao dará a vida de volta que ele roubou.
    Voltando ao livro. O Autor nos ajuda a encontrar a resposta de que de certa forma passaremos pelas angústias desse mundo, mas sozinhos sem a forca de Deus no meio da dor será quase impossível uma sobrevivência. O autor mostrou que aquela família iria passar por aqui de qqr maneira. Nao porque Deus brinca conosco, mas sim, como vc mesma escreveu: esse mundo é mal e está falido há muito tempo.
    Acabe de ler o livro. Vai te fazer bem.

    Um beijao

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  2. Oi Camille.
    Não vi o filme e não li o livro, mas a partir das tuas considerações e do comentário da Georgia, me atrevo a palpitar (no dia em que não der mais palpites sobre tudo e todos, não serei mais eu).
    É o seguinte: acredito que depois de tantos anos celebrando os prazeres da carne, a humanidade esteja entrando em uma era onde a espiritualidade terá papel mais relevante, ou, melhor dizendo, necessite voltar-se para as coisas do espírito e aqueles que tentam explicá-las.
    Afinal, nem só de pão vive o homem.

    Beijo.

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  3. Não sei, não fui assistir... Juro que não me interessou em momento algum. Vi a chamada na net e pensei, já há mortes brutais bastante mundo afora, não preciso disso.
    Pensei em ler a Cabana, mas li a sinopse e pronto, meu pensamento deixou claro que eu não iria fazer isso. Simples.
    Nossa, não leio nem matérias sobre crime porque não quero infectar o meu mundo com isso, sabe?
    Ele já é cruel o bastante sem todas essas coisas insanas.
    Beijos

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  4. Ai amiga, como te entendo. Eu não quero ver este filme...quero ver Idas e Vindas do Amor e Remeber me próximo mês...no mais fico esperando Eclipse, que vc sabe que sou fiel demais ao Edward =D.
    Quanto ao livro A Cabana só gostei de alguns diálogos, principalmente os dele com Jesus, na verdade só fica interessante qd a Santíssima Trindade entra, mas como leitura não recomendo e não leria outra vez...melhor a Bíblia.

    Um beijo enorme, Jan.

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  5. Tenho sentido falta da 7ª arte, adoro, mas não tenho ido aos filmes que sempre planeio ver. Cam o mundo de hoje está focado nas aparências, não importando com as consequências que virão. A dor é uma delas e só com xilocaina para conseguir suportar
    boa semana

    Agora adotei um iPhone e sua câmera é ruim, mas uso o Nokia N95 8gb eventualmente, já que gosto dos dois.

    Bj

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  6. Muito bom o relato, fizeste uma análise da vida juntamente com o filme.
    Realmente, tem momentos em que precisamos ver coisas mais leves para poder suportar.
    É o preço do progresso material sem o equivalente espiritual junto que a humanidade vem realizando.
    Eu ainda acredito que somos muito mais do que isto tudo que está acontecendo e ainda iremos superar, só não sei quando...
    Terapia é uma solução.
    Beijos

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  7. Olá, assisti o Filme e Li o Livro A Cabana, alguém sabe dizer se no momento que a menina encontra uma outra menina q foi morta com seis anos numa cabana tem alguma relação com o filme e o livro?

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  8. Anônimo17:27

    Nao sei se tem relaçao, mas pelo que voce diz, é parecido. Nao cheguei a ler a parte que a menina do livro encontra uma menina que ja morreu. Mas no fime tem isso.
    Bjos.
    Cam

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  9. Anônimo17:27

    Nao sei se tem relaçao, mas pelo que voce diz, é parecido. Nao cheguei a ler a parte que a menina do livro encontra uma menina que ja morreu. Mas no fime tem isso.
    Bjos.
    Cam

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  10. Anônimo17:27

    Nao sei se tem relaçao, mas pelo que voce diz, é parecido. Nao cheguei a ler a parte que a menina do livro encontra uma menina que ja morreu. Mas no fime tem isso.
    Bjos.
    Cam

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  11. Qrda, não vi o filme nem o livro.
    Outra dica: "Simplesmente, Martha" já viu? ótimo, vai adorar- é alemão-tem por ai. Bjs Laura
    Bom fim de semana.

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  12. Oi Cam, tudo bem?

    Nao sei se você leu A dama das camélias, mas falei dele no meu outro blog.

    Tem tempo de deixar um comentario por lá?

    http://www.elasestaolendo.blogspot.com/

    Bom fim de semana

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  13. Oi Camille.
    Só pra dizer que gostei do teu comentário lá no post Estaca Zero, da Toca. Estou pensando na possibilidade de manter por mais tempo a serenidade. Mas tenho medo: será que mereço ser feliz? Que me perdoem os mortos de minha felicidade?
    Complicado, né? Que melda.

    Beijo.

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  14. Zany - zany.zip.net11:20

    Cam, não resisti e resolvi comentar o seu comentário, ano seu blog. Por incrível que pareça, aqui no Norte, bacuri também é denominação usada para filhos. Tipo:"Vou levar os meus bacurizinhos pra passear na praça." Agora a expressão filhote de bacuri que aparece no post, refere-se a uma parte da polpa que não tem semente e que é a parte mais adocicada da fruta. Quanto ao uso do nome com definições diferentes deve-se a diversidade da nossa amada Língua Portuguesa. Quem sabe uma hora dessas envio pra vc. alguma iguaria feita com o bacuri, pra você ter a idéia da delícia que é esta fruta.Bjs e obrigada por sua presença contante no meu Cotidiano.

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  15. Camille, nao vi o filme e nem li o livro.Vou ler, depois de seu post. Mas concordo com seu tio: O céu e o Inferno...É tudo aqui, mesmo.
    Bjs e dias felizes

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