16 janeiro 2010

Joaquim Nabuco, o menino de Massangana

Para que gosta de literatura e história do Brasil. (É gente, nem parece mas nossa história é bonita e com um tanto de grandes heróis). Bom, ai vai um texto inédito de Sonia Sales, parte de seu novo livro, sobre Joaquim Nabuco. Uma homenagem aos cem anos do abolicionista.

O Menino de Massangana

Por Sonia Sales

Cem anos sem Joaquim Nabuco, o herói da Abolição da escravatura no Brasil!
A 17 de janeiro de 1910, vai-se o grande brasileiro, morto como embaixador em Washington. Com honras militares, dentro de um esquife de bronze, Nabuco é levado para a Igreja de Rhode Island para as últimas despedidas. Nas exéquias estão presentes além do Presidente Taft, embaixadores, ministros, militares e gente da sociedade, para honrarem aquele que com tanta dignidade representou o Brasil. O corpo embalsamado volta ao país no navio de Guerra norte americano, “ North Caroline”, que o traz para o Rio de Janeiro. O povo já está nas ruas para recebê-lo. É conduzido para o Palácio Monroe, onde os estandartes abolicionistas estão estendidos em sua homenagem. Depois de 4 dias, o corpo viaja para o Recife, sua terra tão amada; os seus concidadãos o esperam agrupados em todos os cantos da cidade, mas o grande orador está calado, não mais se ouvirá a sua voz vibrante. É conduzido enfim para o Cemitério da Redenção e Santo Amaro.
A cidade para, o povo chora.
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araujo, com um metro e oitenta e seis, porte atlético, muito claro, nariz afilado, mais parecia um europeu. Considerado o mais belo homem do Império e o mais galante embaixador da República, nasceu em 19 de Agosto de 1849. Seu pai, José Thomaz Nabuco de Araujo, era um dos mais eminentes estadistas da sua época: deputado, senador, presidente de Província e principalmente defensor das causas nobres; sua mãe D Ana Benigna pertencia à ilustre família pernambucana descendente dos Morgado do Cabo.
Joaquim Nabuco nasceu no Recife e foi batizado no Engenho de Massangana, recebendo o nome do padrinho, como era uso na época. Tendo o pai que assumir a cadeira de deputado para a qual fora eleito e transferir-se para o Rio de Janeiro, numa longa e perigosa viagem de barco, preferiu deixá-lo aos cuidados de seu padrinho e de sua mulher D. Ana Rosa. O casal sem filhos tomou-se de amores pelo menino.
Quinquim como o chamavam, passou a morar com os padrinhos e lá envolto no amor de seus pais adotivos, formou o caráter e teve os primeiros contatos com a escravatura. Cresceu livre apegado à natureza e os primeiros companheiros de folguedos eram filhos de escravos. Sua verdadeira mãe, da qual sempre se lembraria com amor e gratidão, D. Ana Rosa.
Por oito anos Quinquim viveu no Engenho de Massangana, em terras do Município de Santo Agostinho.

-Das recordações da minha infância a que eclipsa todas as outras é o amor que tive por aquela que me criou como filho, minha mdrinha” – assim escreve Nabuco em seu livro - Minha Formação.

Em Massangana, ficando viúva, amiga e benfeitora dos que a serviam, D. Ana Rosa era o centro de tudo, nho Quim como o chamavam os escravos era o senhor da casa grande. Ele reinava absoluto no coração da madrinha. E esse amor acompanhou-o por toda a vida, dando-lhe a segurança necessária para enfrentar os obstáculos que viriam.

A escravidão para ele , tinha o calor carinhosos do colo da escravas. Dormia com suas estórias e acordava com o seu amor.

Aos oito anos, com a morte de sua madrinha, foi levado para a casa dos pais no Rio de Janeiro, e lá estudou, no colégio PedroII, tendo como mestre o Barão bávaro Herman Tautphoeus. Em seguida vai para a Faculdade de Direito em São Paulo, onde se distingue como orador, mas no quarto ano transfere-se para o Recife, então terceira cidade do Brasil, maior que São Paulo com mais de cem mil habitantes, onde conclui o curso. Em 28 de Novembro de 1870, forma-se em Ciências Sociais e Jurídicas.
Volta ao Engenho de Massangana, para visitar a capelinha de São Mateus onde D. Na Rosa estava sepultada e lá rezando chora abrindo a alma para aquela que considerava sua mãe. Dirige-se até ao cercado, local da sepultura dos escravos e recorda-se de cada um deles, seus rostos, seus nomes, sua humildade e naquele momento de solidão e saudade, com a lembrança daqueles que tanto o amaram, o drama da escravidão reflete-se em sua mente, fazendo com que o seu infortúnio e sofrimento, se desenhasse definitivamente em seu espírito, e ali, em sua Massangana, faz o juramento solene que os libertaria.
Assim o fez, renunciando a tudo o que pudesse afastá-lo da causa. Lutou contra todos os obstáculos, até conseguir realizar o maior dos seus sonhos: A promulgação da Lei 3353, de 13 de maio de 1888. A Lei Áurea.
Está extinta a escravidão no Brasil!

Sonia Sales é membro titular da Academia Carioca de Letras , do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do PEN Clube do Brasil e da Sociedade Eça de Queiroz.

8 comentários:

  1. Pena que acabou Cam. Mesmo no celular, esse pequeno parágrafo estava uma delícia de ler.
    Vou procurar o livro.
    Uma ótima semana para vocês
    Bjs =)

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  2. Eu sou suspeita em falar, desde a minha adolescência sou apaixonada por Joaquim Nabuco...vou procurar uma foto que tenho com o boneco que o grupo Mão_Molenga fez dele para o Brasil 500 Anos! O túmulo dele lá no cemitério de Santo Amaro é lindo, assim como a estátua da Praça Joaquim Nabuco. Como pernambucana só tenho a agradecer por este post!
    Beijos, Jan.

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  3. Anônimo16:22

    Desculpe a minha ignorância, mas não conhecia a história de Joaquim Nabuco.
    Big Beijos

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  4. Quanta coisa bonita, quanta história fascinante, nos passa despercebido.
    Vou procurar o livr também.
    Saudades de você.
    Está tudo bem com vcs duas?
    Como está sendo seu início de ano?
    Beijos querida.

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  5. Zany01:43

    Cam, amo Literatura e amei saber um pouco mais sobre Joaquim Nabuco através deste texto muito bem estruturado. Bjs!!

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  6. Li na revista Veja, uma reportagem falando sobre ele e que este ano será celebrado o centenário de sua morte. Ele foi além de toda a sua formação, um intelectual empolgado, vigoroso, combativo e, acima de tudo, apaixonado pela civilização. Beijus,

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  7. Ele foi um homem fascinante. Ótima dica a do livro.

    Bjao e boa semana

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