23 outubro 2009

Também me sinto uma Helena.

Quando começou a novela "Viver a Vida" de Manoel Carlos, apareceu a protagonista Helena na beleza extasiante de Tais Araújo, mas ainda era cedo para ver muitas nuances na personagem. Assim, todas as mulheres que apareciam na tela, me pareciam um complemento especial de Helena. Como se, na exposição de suas heroínas sempre com o mesmo nome- Helena- Manoel Carlos estivesse na busca da mulher ideal, desconstruindo um "tipo ideal" weberiano.

Explico: Max Weber, o sociólogo tinha um método de pesquisa simples de entender. Para compreender uma realidade, ele construia um objeto que tivesse diversas caracteristicas bem pontuais. Por exemplo, a população de uma cidade do interior- tem fazendeiros, tem lojinhas de artezanato, tem gente jovem que estuda na cidade grande e visita os parentes no final de semana, enfim, Weber somava caracteristicas para dizer:o tipo ideal- como no exemplo de cidade do interior- é assim. E ao comparar a cidade do interior " tipo" com outras, ele ressaltava aquilo que fugia ao quadro traçado- ah essa aqui tem trafico de drogas. Já a outra ali tem uma cadeia de fast-food que prospera mesmo que os habitantes tenham o hábito de almoçar em casa. Deu pra entender? Estou complicando o simples? Só queria dizer que, ao meu ver, todas as personagens femininas da novela somadas, poderiam ser Helena, uma mulher realmente tridimencional, como a realidade que percebemos. Com uma enorme riqueza interior, como a médica loura ( não guardo nomes mesmo), como a mulher que na pele de Lilian Cabral, abandona a carreira pelo "bem" do casamento e é abandonada pelo marido galinha. Todas, todas mesmo, são parte de um mesmo arco-iris.

Mas agora que a novela já está há um tempinho no ar, parece que Helena começa a conquistar seu espaço gente de verdade dentro da trama. Um indivíduo, com tantas caracteristicas interessantes, que vendo-a como um ser humano, consigo me identificar em uma porção de coisas. Ela é modelo, mas não é só isso. Eu não sou modelo e continuo me sentindo uma Helena, ou parecida com essa Helena. Ela se casou intempestivamente pela força da paixão, sem se perguntar quem era de fato aquele homem e se ele teria condições de faze-la feliz. Se jogou na relação". E só não está em vias de se esborrachar por que sua profissão a preenche muito, é feliz ali. O personagem do marido tão prematuramente já mostra que aquela frase de botequim é bem verdadeira:

"você pode ser a mulher certa, mas o homem errado será sempre o homem errado". Então Helena que observasse o que ele era com as outras, para entender o que poderia ser com ela. Mas não viu.

Helena é uma mulher traída, talvez intua, mas ainda não sabe. Ainda está pensando em largar tudo que conquistou e que a deixa feliz, mas não totalmente, pelo seu "compromisso" com o marido. A quem ela atribuiu em algum momento o poder de deixa-la esse sim, completamente realizada. O que claro, é uma fantasia. Mesmo que o sujeito fosse outro, não existe essa completude em nada ou em ninguém. (Que peninha não é? Eu também acho.)

Mas também não é só isso. Helena quer ser amada e não apenas por seu marido. Ela tenta agregar e conquistar a filha dele, quase da idade dela, para isso não medindo sacrifícios. Como abrir mão de seu cachê de modelo internacional para viabilizar a viagem da enteada futil, mesquinha, mimada, e aspirante a modelo famosa, mas sem muita vontade de pegar no pesado.

Helena certamente começa a ver, através da educação superficial e egoísta da enteada Luciana, o que está por tras da fachada romântica de seu marido tolo. E remói uma tristeza, num momento em que ainda poderia ser "uma lua de mel", mas já tem o gosto amargo da decepção. Um gosto tão ruim de sentir, que faz com que Helena insista na besteira, como se fosse bala de hortelã.

E se negue, até o capítulo atual, a viver os recentes apelos do acaso glamouroso da sua profissão: como cruzar com o Thiago Lacerda, fotografo "aventureiro" talentoso, lindo e interessado nela. Até por que Helena não quer aventuras. Livre do jeito que sempre foi , ela busca um companheiro, uma alma gêmea. Um homem para chamar de seu. Mas definitivamente, não vai encontrar em José Mayer. ( não guardei o nome do personagem). Talvez por que José Mayer dê tanta veracidade aos seus personagens que "se acham" sem ter por que, e muitas Helenas de muitas tramas acreditem nesse tudo de bom que ele não é, passei a detestar o ator. Não é de agora, embora nessa novela, sua cara de galã latino me incomode mais. Physique du role + sua competência para encarnar repetidas vezes um novo "Wando" sem beiçola( pelo menos isso)= horror da minha parte. Feio, baixinho, inteligencia mediana , muito mais velho do que a linda e sensível mulher, mesmo assim o cara se dá ao direito de não ser capaz de amá-la. Embora amar não seja uma questão de direito, mas de capacidade. Tem gente que não faz vínculo. E essa dificuldade tem nominho próprio que não vem ao caso aqui.

Tudo isso misturado, dá no que eu disse logo de início. Me sinto uma Helena em muitos momentos. Graças a capacidade de observação e escrita de Manoel Carlos, cheia de humanidade, até nos seus clichês. E claro, graças ao fato de eu adorar televisão e novelas. Senão estaria me comparando a algum filme francês. Pourquoi pas? ( foto retirada de "O Fuxico"- portal Terra.com.br)

19 comentários:

  1. Oi Camille.
    Não estou acompanhando a novela - se vi meio capítulo foi muito. Porém, pela tua análise percebo tratar-se da história de uma mulher em busca da felicidade, com a vã ilusão de que esta se encontra no outro e não nela mesma. Até descobrir o seu erro de avaliação vai rolar muito choro e ranger de dentes, características indispensáveis neste tipo de entretenimento. Já disse alguém que todas as histórias já foram contadas, o que existe é um jeito novo de contá-las - o que não diminui o prazer, para quem gosta, de divertir-se e até mesmo obter alguma instrução existencial com os folhetins televisivos.

    Um beijo pra você e que seja encharcada de saudável alegria a festinha de tua filha amanhã (não, não sou onisciente - li a informação no teu comentário lá na Luma).
    Inté.

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  2. Não gostei da novela e olha que costumo acompanhar todas. Não gostei na Helena, chata e a Lilian Cabral sempre da um show de interpretação.
    Viu que o Zé Mayer virou campeão de audiência do twitter no mundo?
    Bom fim me semana
    Bjs:-)

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  3. Pra mim, todas as novelas do Maneco soam iguais. A unica coisa que queria ser era Zé Mayer em versão feminina quando crescer!

    www.teoria-do-playmobil.blogspot.com

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  4. Cam muito interessante a sua análise da personagem. Adoro ler coisas desse tipo, independente se eu concordo ou não. Isso acrescenta muito. Ultimamente procuro um grupo (blogs, orkut, yahoo) que discuta sobre filmes com um leve pano de fundo a comida, mas como esses filmes clássicos como "Chocolate", "a festa de babete", ambos muito bons e interessantes também para discussão.
    Eu não gosto de novelas, acho elas repetitivas demais, parece que tá faltando criatividade...mas quem sou eu para julgar isso.
    Vou ao Brasil, viagem rápida, mas vou tentar assisti um pedacinho dessa novela e observar essa Helena. Aí quem sabe posso entender melhor o que você escreveu sobre a personagem e entender sua personalidade também.
    Bjks e bom domingo!!!

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  5. Alouuuu Helena!! Digo, alouuuu Camille! Muito obrigado pela visita à abandonadíssima SOPPA, e por suas carinhosas palavras de estímulo. Preciso arrumar forças, não sei onde, para voltar, pois tenho uma empreitada monumental agora: construir uma página pessoal e detalhar cada trabalho de meu currículo de mais de quarenta anos, minuciosamente. Já dei a partida, mas tudo caminha à passos de cágado perneta. Mas vamos que vamos! Obrigado mais uma vez pela força e incentivo.
    Mais uma coizinha: como é que ainda não descobriram você como crítica televisiva? Além da precisão ao abordar detalhes, você alia filosofia e doçura, um mix muito difícil de ser encontrado nas aves de rapina que costumam escrever sobre o assunto.
    Beijos!

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  6. Menina querida:
    Muito boa sua análise.
    Estou vendo a novela também.
    Acho que o Zé Mayer está mesmo um cachorro nessa novela.
    Mas não gosto da atriz Thaís Araujo, acho que força muito, enfim, não gosto.
    Agora o personagem é o mesmo sofrido que acredita no amor, na fidelidade e cumplicidade, e que, claro, acaba se decepcionando.
    É sempre assim.
    Mas, o que disse o Jens, é o maior responsável por essas decepções.
    Acreditar que a felicidade está no outro.
    Um beijo meu bem.
    Boa semana.

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  7. tá maluca??? só se vc for equipará-la na beleza pq na personalidade nao tem pra ninguem! ow pessoinha chata!!! ( isto é um elogio!)

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  8. Camille querida, tudo bem?

    Gostei muito da sua análise; gosto de ler os seus pontos de vista.
    Minha mae sempre dizia: Quer saber se determinada pessoa vai ser bom marido ou esposa? Observe como ele trata a mae dele. Se for com carinho e respeito ele te tratará da mesma forma, se ele grita com a mae e diz que ela é uma chata, com o tempo do casamento ele vai te tratar da mesma forma; e olha, tenho observado esse mundao em várias línguas, mas esse provérbio da minha mae é batata.
    Eu nao vejo novelas, vi algumas no Brasil, mas as novelas de época; as atuais sao sempre uma chatice com muitas pessoas trocando de casais, o que eu acho que isso influência demais a cabecinha dos jovens e tb dos grandes.

    Te desejo uma linda semana

    Beijos

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  9. Camille, acabei de ler lá na Renata sobre o mesmo tema que vc escreveu aqui.

    Deixei seu link lá para a Renata vir aqui te ler e agora deixo o link dela aqui para vc lê-la. Renata é uma pessoa maravilhosa e uma ulher de uma super cabeca, assim como você.

    http://vemnimimlilidemorada.blogspot.com/2009/10/momento-novela.html

    Beijos

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  10. Anônimo10:30

    Querida Sobrinha,
    Vc sempre brilhante(acho que sempre repito o adjetivo, por não encontrar outro tão adequado)!!!!
    Com certeza vc e muitas mulheres estão se encontrando na "Helena".
    Eu, como vc sabe, faço mais o genero do "to nem aí", rsrs.
    Quanto ao personagem do José Mayer, genial a colocação "se acham"... É isso aí, mesmo!
    Todos, na realidade, inseguros e buscando o que jamais conseguirão resolver...
    Bjos querida e, como hoje é o dia do aniversário da minha afilhada, princesinha muito amada, um milhão de felicidades, saúde, paz e muito amor pra vcs duas.
    Tia Mina

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  11. Cam, cadê o bolo? Parabéns pela data que passou!! Muitas felicidades para sua menina!!

    Que chique, Pedro Paulo Rangel por aqui!! E ele está corretíssimo, pois daria uma excelente crítica de tv, nada superficial!

    Não é necessário assistir a novela para entender a sua análise, o que é o meu caso. Não somente as mulheres, mas todos querem ser amados, como se isso trouxesse a felicidade. Amor não tem nada com felicidade, pois é somente um ingrediente que contribui ou não. No mais, as pessoas, não entendem o que é amar; elas projetam esse sentimento nas pessoas como se isso as tornassem pessoas melhores e egoisticamente, amam o sentimento, ao invés de amar a pessoa. Amor não acaba, ele é somente desviado da pessoa, o que gera insatisfação/frustração em quem não soube canalizar esse sentimento. Eita, compliquei! Mas as Helenas, elas estão por aí, andando pela rua, dentro de nossas casas, por todo canto!

    E quando um casal, vive em canais diferentes - interesses diferentes; a chance da relação sobreviver é proporcional à capacidade que um dos dois tem de se enganar. E empurra-se com a barriga em prol de qualquer desculpa.

    Boa semana! Beijus,

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  12. Oi Camille!

    Muito boa a sua análise sobre a novela, apesar de não assistir (e nem é preciso para entender do assunto...). Eu sempre disse aqui que você é boa nisso, não disse ? Quem foi eleita a "minha personal movie indicator" ? (rs) Eu sempre soube dessa sua qualidade, e a cada dia vejo que se aprimora. Parabéns!

    Super beijo para a filhota, felicidades sem fim.

    Beijo grande para você menina e boa semana,

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  13. Oi Camille
    Gostei da sua postagem!!
    A Georgia havia me indicado seu blog também. Obrigada pela visita lá no meu!
    Beijão

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  14. Anônimo18:25

    Não me simpatizo com a interpretação da Taís Araújo.
    Big Beijos

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  15. Cam,

    eu gosto tb muito das novelas do Manoel Carlos. Acho que ele retrata a vida e suas emoções por um angulo muito sensível.

    Eu queria ser uma Helena tb...rs


    Beijinhos

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  16. Oi Cam! Mesmo qdo morava no Brasil eu não assistia novelas...não gosto..acho chatas e repetitivas :(
    Pra falar a verdade as únicas novelas q acompanhei do início ao fim foram Pantanal e Roque Santeiro.
    Ah...mesmo "atrasadamente" desejo p sua princesa um mundo cheio de energias positivas, coloridas e brilhantes. Muita saúde ,paz, amor e luz no caminho de sua princesinha sempre.E no seu tb, claro :)
    Um beijo p vcs

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  17. Oi, Camille,
    Primeiramente obrigada pela visita! A Georgia é sempre tão gentil comigo!
    Gostei muito da tua análise sobre a Helena e os personagens que a circundam. Gosto de Manoel Carlos e Gloria Perez como autores de novela - são autores que exploram facetas totalmente diferentes. O ritmo é outro. Mas ambos são craques no assunto. Bem, por isso sou meio suspeita pois gosto muito das novelas do Maneco. Acho que o público está sendo um pouco injusto com a Thaís Araújo - a novela está recente e dizer que a 'Helena' que ela interpreta é a pior de todas as Helenas criadas por Manoel Carlos é covardia - está tão recente.... Espero que ela não se deixe envolver por essas forças negativas e sai vitoriosa como atriz.
    Somos multifacetadas e com certeza todas nós mulheres temos um pouco de cada Helena inventada pelo Maneco.
    Beijos e volte sempre!

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  18. Anônimo01:42

    Te encontrei por acaso no blog das garotas modernas. Adorei o texto, muito bom mesmo. Fiquei curiosa com o nome para essa dificuldade de criar vínculo. Bjs e excelente fds!

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  19. Assisti poucos capítulos dessa novela, mas não entendi a crítica feita a atriz e seu personagem. Essa Helena que está aí no ar é o retrato óbvio da socidade atual: a mulher fantasiando ser feliz ao lado de um homem porque a sociedade diz que tem de ser assim. A mulher realizada no trabalho, mas se sentindo incompleta. Acho que o Manoel Carlos acertou uma vez mais, só que esqueceu-se que a sociedade não está preparada para encarar esse "drama feminino".
    Adorei sua análise e mais ainda, gostei de ver a personagem a partir da sua ótica. Beijos

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