21 setembro 2011

Aprender mais rápido com os outros. Taí um bem-estar da cultura.


Bati os olhos em um post interessante, de alguém que falava sobre o aprender. Era de um professor universitário, que descrevia a experiência de um pesquisador que se baseia na observação de dois grupos a serem comparados: um de adultos e outro de crianças, numa espécie de competição com tempo determinado, para a montagem coletiva de uma escultura.
As crianças levam a melhor sempre, comenta o professor sobre o relato do pesquisador- que eu não ouvi. Por que elas "não tem medo de errar", dificuldade essa " que se aprende na escola". Ele diz também que "só se aprende com a emoção" e convida os leitores a lembrarem de seus professores e averiguarem se na tentativa de nos ensinar alguma coisa, não teriam nos despertado "prazer ou ódio". E ainda, que as crianças são focadas, ( ao contrário do adulto que é "disperso"), estão "inteiras" naquilo que fazem, como na poesia de Fernando Pessoa, "Para ser grande sê inteiro".... Perfeito, pelo menos como poesia.
Assim, considero o que eu li, sem dizer aqui a fonte, apenas como uma ponte para a minha reflexão sobre pessoas e seus niveis de cooperação. O que diz respeito a minha própria pesquisa.
Concordo que foco é fundamental para se chegar a algum lugar. Persisitir é tudo de bom. Taí a vida e seus resultados que não nos deixam enganar. Mas existe uma outra coisa que importa e não colide com a persistência, ao contrário. É a colaboração e a aprendizagem entre as pessoas, sem que qualquer tipo de paixão esteja necessariamente envolvida nisso.
Um dos autores que fez a diferença para mim, na observação e entendimento dos processos mentais de uma criança e logo, também de um adulto, foi Vigotsky. Esse pesquisador russo, multidisciplinar: Psicologia, Pedagogia, Literatura e Medicina, focando-se especialmente no estudo da inteligência e das deficiências fisicas e mentais, nasceu em 1886 e morreu aos 37 anos. Mesmo assim, deixou uma produção respeitável, como o livro "Pensamento e Linguagem" que bem poderia estar na cabeceira de todo mundo, inclusive das mamães que estão educando seus pimpolhos: é mais esclarecedor observá-los tendo como base, leitura tão especial.
Vigotsky teve influência de Karl Marx em suas teorias. E foi contemporâneo de Piaget a quem admirava mas divergia em algumas questões como a função da "fala egocêntrica". O ato da criança falar alto enquanto brinca sozinha. (Vigotsky defendia o desenvolvimento de fora para dentro, e o processo sócio-histórico de aprendizagem) Os dois poderiam ter tido um diálogo riquíssimo, se Vigotsky nao tivesse morrido tão cedo. Nasceram no mesmo ano, mas Piaget viveu ate os anos 80, e é sempre mais lembrado por quem trabalha com áreas do desenvolvimento mental como a Pedagogia e a Psicologia. Piaget só conheceu a obra de Vigotsky após a sua morte. Que pena.
Segundo Vigotsky o ser humano tem um potencial de aprendizagem e também algo que ele denominou "zona de desenvolvimento proximal" que faz com que tarefas e habilidades que ainda não estão prontas para serem externalizadas, ganhem um up com as relações que se estabelece, não necessariamente com um adulto ou professor. A criança tem a capacidade de aprender e muito com outra criança. Se ela está quase "pronta" para amarrar um tênis sem ajuda, pode adquirir essa prática ao observar outra criança que já sabe. E assim aprender naturalmente, sem maiores afetações.
O adulto pode fazer a mesma coisa. Se tiver um mínimo de humildade e menos neurose do que a maioria que não enxerga o outro senão como um opositor ao invés de um colaborador, pode aproveitar a oportunidade de assimilar conteúdos para seu crescimento interno.
Que seria do verde, se todos gostassem do amarelo? A mesma coisa acontece com nossas habilidades. Cada pessoa é diferente da outra. E melhor e pior em diversas áreas. Por isso tão importantes as relações que estabelecemos com o mundo.
Quando penso em tudo isso, minha cabeça se volta para a minha pesquisa, que no momento ganha continuidade: como a formaçao de "rede", a convivência com o grupo, a auto-estima levantada por pertencer e ser reconhecido por outras pessoas, ajuda a vida do paciente psiquiátrico. Constrói e reconstrói um contorno, um sentido diante do que poderia ser só caos. E propicia o aprendizado de vivências, uns com os outros. Enquanto um pode ensinar sobre ter namorado, sobre ser mãe, sobre pintar, bordar, costurar, sobre as estrelas, pode aprender o que tem potencial mas ainda não sabe, com seus pares.
A mesma coisa serve para todas as pessoas, enfermas ou não. A aprendizagem também é uma troca e uma colaboração mútua. Assim, caso você ainda não tenha aprendido a amarrar o sapato observe o seu vizinho de mundo. Certamente você receberá boas pistas, num amplo sentido, de como é que se faz um laço.
(foto encontrada busca Google)
Nota boa: hoje Anna Luiza tem prova de Português. Ela precisa de uma nota alta para recuperar o bimestre passado. Sabe tudo, e conseguimos juntas despertar o entusiasmo pela Lingua, nossa pátria. Anna Luiza só precisa ficar tranquila na prova para acertar. Sem medo de errar, como disse o tal professor. Torçam por ela hoje gente! Dia 22 de setembro de 2011.

9 comentários:

  1. Camille,

    Texto excepcional! Que aula! fatores importantes na aprendizagem: foco, persistência e, mais que tudo, o grupo (a troca em um grupo), não, é claro, necessariamente o mesmo, porque as pessoas têm diferenciados papéis. Muito boa a reflexão suscinta e objetiva sobre esses aspectos. Um ponto que realço na sua exposição é
    "só se aprende com a emoção"! Como é verdadeiro isso. Se o conhecimento não é absorvido com a emoção, pode haver decoreba, mas nunca aprendizagem, aquilo que faz a pessoa crescer no fazer, no entender, no refletir e no aplicar o aprendido em situações novas.
    Adorei!

    Girassóis nos seus dias.
    Beijos

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  2. eu adoro aprender. adorava ir na escola. adoro descobrir e conhecer. beijos, pedrita

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  3. Camille, parabéns, que texto bem escrito e fácil de entender!
    Como disse a Celina, é uma aula de aprendizagem e tanta, pois eu falo justamente isso pro meu filho 'foco' naquilo que vai fazer. O problema é que ele prefere sempre escutar o pipoqueiro da esquina. hehe
    beijinhos cariocas

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  4. Anônimo08:01

    Alexandre! Não diga isso. Seus posts sao maravilhosos!!! Insubstituiveis por qualquer comentário. Quanto ao post, eu mesma estou fazendo uma critica as minhas referencias. Nao uma critica ferrenha, mas dizendo que nao é beeem assim como a pessoa falou. Que tem outros fatores. Enfim tudo soma. A gente le um post de um e acrescenta. Otimo isso, se nao servir para isso a blogosfera, para fomentar o diálogo e tb a aprendizagem, como disse voce, que aprende nos comments, nao vale de nada ne? É so uma feira de vaidades e desabafos. Mas é muito mais com isso, é um instrumento valioso que temos nas maos.
    Beijos Alê e obrigada por teus posts e tb por teus comentarios.
    Cam

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  5. volto pra lhe ler com calma...
    sim, qdo eu for a sp nos veremos. certeza!
    bj

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  6. Acredito que esse é o maior erro do ser humano quando atinge a idade adulta: medo de errar. Isso se torna um obstáculo tão grande que deixa de se arriscar mais.
    Big Beijos

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  7. Camille, fico super feliz com os elogios, são um carinho,te agradeço... e quero mesmo ver sua casa depois de pronta, seria uma honra prá mim, com certeza,aprenderia algo com você.
    Espero que Anna Luiza tenha superado o medo de errar e simplesmente tenha feito a parte dela, assim eu falava pro meu filho,pois lhe dava o tal branco na hora da prova,como dava em mim também,quando criança, acredito que o medo vem depois da expectativa, se pensarmos que ao fazermos tudo o que podemos, o resultado é o que terá que ser, sem transtornos, é apenas um resultado, a vida continuará. Adorei o artigo, concordo plenamente com o acréscimo que a convivência estabelece a quem se dispõe a trocar, as diferenças regularizam a zona do conforto, na qual se fôssemos todos iguais,poucas ou nenhumas descobertas seriam avançadas, precisamos do outro do jeito que for, para evoluir, com todos os conflitos implícitos nesse processo. Colaboraçãonomeu entender é aproveitar o que vem de fora, estar atento,escutar, analisar e criar o seu próprio entendimento e conteudo, assim, como você fez com o texto que lhe inspirou. Ficou muito bom! Amei a tua reflexão, beijos,ótimo final de semana, Cam.

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  8. Você me fez lembrar a minha mãe que me dizia quando eu era pequena "é só ir lá e fazer, se der certo ótimo, se não der certo terá que tentar novamente e terá aprendido mais alguma coisa". O adulto é estranho quanto ao acertar ou errar. Não sei exatamente se é por medo, talvez o seja, mas as vezes penso que é a questão do passo a frente porque é mais confortável (não pra mim) ficar no lugar seguro do qual tudo se sabe e nada se desconhece. rs
    Já a criança não tem essa segurança porque ela precisa dar o passo a frente. Há o instinto natural de ir adiante, algo que alguns de nós acaba, ou alimentando, ou perdendo de vez.

    bacio carissima

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  9. Anônimo11:00

    Sua mae era sabia com essa atitude. Que diferença fara uma prova, um ataque de nervoso por essa prova? Se a criança for na boa, a gente pode ate dizer que a prova é uma forma de mostrar que ela sabe as coisas, para a escola. Mas nem sempre viu? Vejo cada coisa idiota nas provas especialmente.
    Eu acabei com meu nervosismo de falar em publico. Mas foi no colegio mesmo. Amem, por que durante muitos anos fui obrigada a falar para grandes e pequenas plateias, e nao apenas falar, convencer muitas vezes. Tornou-se tarefa facil. Acho que hoje fico timida quanto menos gente tiver, hehehehe.
    Beijao flor!

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